Observe a respiração e permaneça
observando a respiração, sem pensamentos, sem diálogos internos... Comece,
então, a soltar todo o peso que você tem carregado em pensamentos e
sentimentos...
O caminho para a liberdade e para a
liberação está repleto de lições sobre o desapego. São as lições espirituais às
quais estamos sempre resistindo quase automaticamente. Sabemos que é sábio
afrouxar um pouco os laços. Mas é tão difícil fazê-lo! Perceba... As lições que
precisamos aprender repetem-se inúmeras vezes. E em todas elas somos incapazes
de soltar as amarras e queimamos as mãos nas cordas, tamanha é a força com que
as seguramos.
Seguramos nossa ganância, nossa
ambição, nosso ódio, nossa raiva, nosso ciúme, nossa possessividade... E não
largamos de jeito nenhum.
Todos nós sabemos o que é tentar
libertar-se de ideias obsessivas que insistem em criar um turbilhão de
pensamentos na cabeça como se tivessem vida própria. Quando tentamos abandonar
velhos hábitos, quase sentimos uma dor física. Não raro estamos tão envolvidos
no que se passou antes que nos agarramos com insistência. Nós nos apegamos
loucamente ao que pensamos – em como pensamos e em como agimos. Repetimos os
mesmos erros dia após dia. Por que não podemos simplesmente mudar a marcha?
Na vida, insistimos em fazer tudo à
nossa maneira, mesmo que essa maneira já tenha fracassado dezenas de vezes.
Achamos que vamos derrotar a lei das probabilidades. Tolamente nos
comprometemos com o que fazemos e também nos apegamos às histórias que contamos
a nós mesmos sobre o nosso comportamento. O culpado é o apego. Ceder, soltar-se
e seguir em frente é a solução.
Os ensinamentos deixados por Buda
destacam certos apegos sem os quais poderíamos viver muito bem. Todos refletem
posturas e comportamentos que nos impedem de progredir no caminho espiritual.
Por exemplo: quase todos nós nos
apegamos ao que tem boa aparência ou sabor. Nós nos intoxicamos com o prazer
sensual, com objetos bonitos e com comidas e vinhos fabulosos. E sempre que nos
aborrecemos, procuramos algo externo para nos proporcionar uma cura rápida. Dia
ruim no trabalho? Compre um par de sapatos novos. Discutiu com um colega? Coma
um chocolate. Sente-se inseguro? Tire férias, beba alguma coisa ou arranje uma
amante.
Nós nos ocupamos tanto na satisfação
dos apetites, que não nos aprofundamos nas causas fundamentais da nossa
necessidade constante de estímulos e prazer. Com isso, estamos à mercê dos
nossos incessantes desejos e aversões.
Quem entre nós não acha que suas
opiniões políticas são as melhores? Quem não acha que suas opiniões devem ser aceitas? As opiniões são parte integrante de quem achamos que somos. E pior, além de ter
opiniões inflexíveis, também julgamos as pessoas que discordem da nossa visão
de mundo; às vezes nosso casamento chega ao fim porque achamos mais fácil nos
livrar do parceiro do que amenizar nossas ideias.
A mensagem, naturalmente, é que quando
nos agarramos às nossas opiniões e aos nossos julgamentos, não sobra espaço
para mais nada. Ficamos tão envolvidos nas nossas versões da realidade que
pouquíssima luz consegue sair ou entrar.
O comportamento de todos nós é, de
certa forma, ritualizado. Acordamos, levamos o cachorro para passear, tomamos
banho, tomamos suco, lemos ou vemos as notícias. Se permitirmos que nosso apego
aos rituais se entranhe demais, esses rituais podem transformar-se em vícios.
Quando nos tornamos ritualistas demais
em qualquer atividade, nossas prioridades inevitavelmente se confundem e a
forma assume importância maior que a essência. Por exemplo, em vez de dedicar
algum tempo aos filhos, ficamos incomodando-os para que mantenham seus quartos
com determinada aparência. Franqueza, carinho e amor proporcionam mais proteção
do que a atenção ás meras aparências. Na verdade, quando amadurecemos, parece
cada vez mais óbvio que, em todos os níveis, a aparência externa não importa.
Outro ponto: para a maioria de nós, o
apego ao ego, ou seja, a preocupação consigo mesmo, é o tema predominante das
nossas vidas. Há alguma dúvida a esse respeito? Às vezes ficamos tão absortos
conosco mesmos que sobra pouco espaço para qualquer outra pessoa.
Não pensamos todos, de vez em quando,
que somos grande coisa? Um pouquinho melhores, mais inteligentes, mais fortes,
mais divertidos do que as pessoas à nossa volta?
Seja qual for o nome que lhe deem:
arrogância, orgulho, soberba, narcisismo ou egocentrismo, o apego ao ego é o
que nos separa dos nossos semelhantes no planeta Terra. Só conseguiremos nos
relacionar verdadeiramente uns com os outros quando estivermos dispostos a nos
encarar de igual para igual, sem armaduras ou barreiras para nos separar.
Todos temos a tendência de nos definir
e nos identificar por intermédio do currículo, das roupas, do emprego, das
realizações acadêmicas. Sou uma pessoa bem sucedida porque possuo coisas boas;
sou inteligente porque leio e penso muito e tenho opiniões bem informadas.
Acreditamos em histórias que nós mesmos (e os outros) contamos sobre quem somos
com base nos nossos apegos. Não raro damos os nossos primeiros passos no
caminho espiritual porque descobrimos que não queremos fazer mais isso.
Quando assumimos um compromisso com o
caminho espiritual, fazemos um contrato não verbal conosco mesmo: combinamos
que vamos meditar a respeito de quanto nos custam nossos apegos. Começamos a
pensar nas histórias que contamos a nosso respeito com relação a quem somos e
sobre o que é importante.
Perguntamos a nós mesmos: somos donos
dos nossos bens ou são eles que nos possuem? Nossas opiniões nos definem de
modo que nossa bondade inata se perca na arte de bem falar? Somos tão dominados
pela nossa necessidade de rituais pessoais, agendas, cronogramas e maneiras
preestabelecidas de agir que nossas prioridades se perdem?
Ao percorrer o caminho espiritual,
começamos a renunciar aos apegos que não são importantes a longo prazo.
Cada perda abre caminho para outros
dons nem imaginados antes...
A
mensagem que fica é:
Os celeiros queimaram
Agora
Posso
Ver a lua
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