Lama
Surya Das diz:
Nos últimos tempos, aonde quer que eu
vá, as pessoas me perguntam como lido com o medo, a raiva e a dor. Pedem
orientação para curar as feridas e os ressentimentos causados por fatos traumáticos
em suas vidas.
Muitos homens e mulheres ainda estão
cambaleando emocionalmente sob o peso de traumas recentes, quer sob a forma de
desilusões, perdas individuais ou acontecimentos sociais caóticos.
Frequentemente, os conselhos que nos
dão para lidar com a dor ou a mágoa não ajudam em nada. Retaliação, vingança e
raiva podem proporcionar alguma satisfação inicial, mas não são realmente as
respostas que buscamos. Nem desespero ou impotência. Mas existe uma abordagem
que fica no meio, na qual o sofrimento pode ser transformado em compreensão,
compaixão, sabedoria e até mesmo paz. Isso é possível para todos nós, se
decidirmos promover essa transformação, independentemente de quem somos, onde
viemos ou no que acreditamos. O reverendo Martin Luther King disse que temos
apenas duas escolhas: “viver juntos como irmãos ou perecermos juntos como
tolos”. É absolutamente de nosso interesse nos unirmos, se não quisermos ser
destruídos.
Buda disse que sem dificuldades e
problemas não conseguimos crescer nem aumentar a força interior, a tolerância
paciente, a maturidade emocional e a visão. Tudo muda, mas o que é real e
verdadeiro permanece. Aprendi que, “se você realmente quiser crescer e aprender
como pessoa, precisa entender que o universo o matriculou na escola da vida,
que se chama perda”.
Existe uma história sobre um buscador
que viaja ao Himalaia procurando um Buda Iluminado que possa lhe transmitir
ensinamentos. O buscador quer a última palavra sobre a questão da iluminação.
Depois de caminhar por trilhas difíceis durante dias e dias, ele começa a
abandonar o equipamento pesado à medida que se aproxima de um alto pico no
Nepal. Primeiro abandona a tenda, depois o equipamento de camping e finalmente
a mochila pesada. Despido de quase tudo, e tendo respirado centenas de milhares
de vezes, começa a esquecer suas preocupações mundanas. Está pronto para chegar
e ouvir. Ele se arrasta até a última crista da montanha e vê a entrada de uma
caverna. Surpreendentemente, vê um mestre búdico sentado ali. Maravilhado, aliviado
e feliz, o buscador pergunta ao sábio: “Qual é o primeiro princípio? Qual é o
seu ensinamento mais importante e verdadeiro?
O buscador acha que esse será o grande
momento de sua vida e que está prestes a se iluminar. Vai descobrir a grande
verdade, sobre a qual deve refletir. E o Buda responde: “Dukkha. A vida é
sofrimento, a vida é frágil, a vida é difícil”. O buscador fica totalmente
desapontado. Olha ao seu redor e grita com selvageria: “Há mais alguém aqui com
quem eu possa falar”?
Eu adoro essa história. O que fazer
quando vivemos algo que não é o que esperávamos ou, pior ainda, quando vivemos
algo realmente difícil? Felizmente, existem muitos ensinamentos maravilhosos,
deixados por Buda, que nos dão orientação. Os ensinamentos nos ajudam a lidar inteligentemente
com perdas, mudanças e medo, e também com as grandes perguntas, como o sentido
da vida e a chave da felicidade. Além disso, ensinam sobre morte e sofrimento,
e como utilizar tudo como meio de transformação.
A versão dada por um sábio sobre a
Primeira Nobre Verdade da Dukkha (insatisfação) é que na vida a dor é
inevitável, mas o sofrimento é opcional. A dor e o sofrimento nos mostram onde
estamos mais apegados a nós mesmos – por exemplo, ao nosso corpo ou às pessoas
que amamos.
Acho que esta é a hora de nos
transformarmos em guerreiros da paz e do diálogo. Temos que aprender a dura
lição que afirma que sem a dor – ou a irritação interior – as pérolas da
sabedoria não se produzirão dentro de nós. Chamo isso de Princípio da perola:
sem dor, não existe transformação para melhor.
Dentro de uma ostra, é preciso que um
irritante – como um grão de areia ou pedaço de concha – estimule a ostra a
produzir as secreções de muco que envolverão o agente irritante,
cristalizando-se finalmente em pedra preciosa. Com os seres humanos acontece o
mesmo, independentemente de quanto desejamos que tudo seja de outra maneira. As
dificuldades e o sofrimento produzem o desejo de iluminação espiritual, e é
essa aspiração que motiva ao longo do caminho do despertar e da libertação. Nem
há crescimento sem as dores do crescimento.
Acho que a virtude, ou paramita (perfeição transcendental),
mais útil ao enfrentar as dificuldades e o sofrimento é a paciência. Ela exige
certo tipo de expansão, uma aceitação e uma fusão generosas, em vez de retração
e separatividade. Exige tempo, paciência e bravura, mas penso que Shanti é de
grande importância para suportar melhor a dor e a tristeza.
E
Lama Surya Das finaliza:
Enfrente suas dificuldades realisticamente, em vez de
fugir delas, e muitas riquezas poderão ser suas. Ao se defrontar com dor e má
sorte, simplesmente pare e centre-se em si mesmo, no aqui e agora, respire
profundamente, sente-se e concentre-se. Também podem tentar rir, de uma forma
ou de outra. Ria com uma risada cósmica, anime-se, e a iluminação virá.
palavras de Lama Surya das
Nenhum comentário:
Postar um comentário