Hoje, para tentar descrever como
pensamentos e emoções surgem, crescem, predominam, fluem, percorrem e moldam
nosso corpo, coração e mente, usaremos uma analogia com a natureza e o fenômeno
da chuva.
Imagine um dia claro de verão – um céu
maravilhoso, muito azul e perfeitamente límpido. Tudo está muito quieto e sem
vento. Se você ficar observando este céu atentamente, por mais límpido que
possa estar, de repente, quando menos espera, já vemos ali uma pequena
nuvenzinha flutuando no ar... É como num passe de mágica. Isto é muito
interessante! Pois é mais ou menos assim também o que acontece em nossa mente.
Nossa mente é totalmente ampla,
abrangente, pura, límpida, clara, brilhante e luminosa, porém, de repente,
surge nela um pensamento, bem assim como uma nuvem aparece no céu.
No céu perfeitamente azul e límpido,
não há nada que impeça os raios do sol de atingirem a terra. Porém, quando
surge aquela nuvem, e ela vai crescendo, crescendo e crescendo, em pouco tempo
ela produz sombra e já impede e bloqueia a passagem do sol. Não é assim que
acontece?
Do mesmo modo, do aparecimento de
tantas “nuvens de pensamentos”, quanto mais pensamentos em nossa mente, mais
falta de luminosidade será percebida.
O que acontece a seguir? Se você
estiver atento, vai lembrar que luz provoca calor sobre a terra, e sombra
provoca o efeito contrário, esfriamento. E diferenças de temperatura fazem
surgir um novo elemento: o vento.
O sopro dos ventos espalha e
redistribui rapidamente mais e mais nuvens pelo céu da nossa mente. Desde o
momento em que surge a primeira pequena nuvem ou pensamento na mente,
assistimos ao surgimento da Ignorância.
Devido ao acúmulo de nuvens de
pensamentos no céu da nossa mente, nosso céu, antes azul intenso e luminoso,
transforma-se num quase anoitecer. Então, quando menos se espera, um novo
fenômeno interessante acontece. Com tantos pensamentos se debatendo, uma certa
carga eletriza o ar e, de repente, um raio corta o espaço.
As nuvens dos nossos pensamentos podem
ser perfeitamente brancas e encantadoras, ou podem ser negras e assustadoras,
mas o que elas fazem, ao final das contas, é nublar a luz e produzir chuva.
Assim, você pode imaginar que os nossos pensamentos “nublam”, obscurecem ou
bloqueiam a luz original da nossa mente e, além disso, acabam produzindo fluxos
de energia cada vez mais grosseiros (as chuvas) – as emoções perturbadoras que
começam a cair e escoar sobre a terra (nosso corpo ou organismo físico).
Se chove pouco, só por um dia, a terra
fica apenas úmida, secando rápido. Mas, depois de muitos dias de podemos chuva,
perceber um outro fenômeno muito interessante: ao cair no solo, a chuva
encontra a terra e começa a marca-la, a sulcá-la, enquanto infiltra, acumula e
escoa. Na verdade, a chuva vai criando uma verdadeira rede de canais que se
aprofundam e estendem. Então, o ponto crucial para nós entendermos aqui é o
seguinte: à medida que se formam os canais superficiais e profundos na terra,
um certo desenho de fluxo se estabelece, fixa, de tal modo que, chovendo
novamente, a água não poderá seguir por qualquer caminho. Ela será conduzida e
tenderá a fluir sempre dentro dos caminhos estabelecidos.
Imagine que a terra seja o nosso
corpo. Do mesmo modo descrito para a terra, nosso corpo vai se desenvolvendo,
com seus canais sendo sulcados e fixados de acordo com a mente, seus
pensamentos e fluxos energéticos sutis (formações cármicas).
Assim, nossos pensamentos, que se
repetem desde muitas vidas, provocam muitos ventos e muita chuva, que sulcam a
terra (formando o nosso corpo físico) com uma rede complexa de canais (os
chamados meridianos da acupuntura). O importante é perceber que nosso corpo e
seus canais guardam uma estreitíssima relação com a nossa mente, suas formações
cármicas e pensamentos!
Em outras palavras, a partir da
Ignorância nossa mente gera pensamentos, e todo o processo acaba gerando um
corpo material com estreita relação com o tipo, a qualidade ou a natureza dos
pensamentos que a nossa mente produziu, acumulou e emite.
Você consegue ver aonde quero chegar? Você já pode perceber que não é muito simples, ou fácil, mudar ou alterar o
fluxo de pensamentos de uma determinada pessoa, pois ela “pensa toda”. Há um
conjunto de canais estabelecidos no seu próprio corpo. Mesmo surgindo novos
pensamentos, de qualidade diferente dos que habitualmente a pessoa produz, as
energias resultantes, ao percorrerem o corpo, são forçadas a fluir pelos canais
já preexistentes. Isto frequentemente resulta em interpretações equivocadas por
parte da mente.
Em outras palavras, pessoas que estão
sempre emitindo pensamentos aversivos, de raiva ou ódio, por exemplo, tendem a
experimentar aversão, ou irritação, ainda que estejam pensando sobre a
tolerância ou paciência.
Pensamentos diferentes geram fluxos
energéticos diferentes que moldam corpos diferentes. O nosso corpo expressa a
mente que o habita. Ele é mente corporificada. O corpo de cada ser humano
expressa o seu próprio carma.
Uma vez tendo adquirido um corpo
físico, desenvolvido pelos pensamentos, temos pouco espaço de manobra em
relação a este corpo material, pois ele é resultado do carma prévio. Mas, ao
mesmo tempo, o nosso carma futuro pode estar em aberto, pois será determinado
pelas ações e pensamentos que praticamos e cultivamos a partir de agora!. Ou
seja, ainda que não possamos mudar muito o corpo físico, temos possibilidade de
mudar e alterar decisivamente a natureza e qualidade dos nosso pensamentos.
Por isso estou sempre ressaltando que
os caminhos que consideram a mente e visam a ela, podem realmente promover
benefícios e transformação espiritual verdadeira. Já os caminhos que priorizam
aspectos corporais, envolvendo práticas intensamente ligadas ao corpo, podem
até ser mais prazerosos e convidativos, mas dificilmente produzirão resultados
a longo prazo. A mente faz o corpo que faz a mente que faz o corpo.
Nesse ponto, você deve concluir que
não precisa se preocupar com vidas passadas, pois está tudo aqui, contido no
que você é exatamente agora, nesta mesma vida, nesta mente, neste corpo. Ele já
expressa todo carma acumulado.
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