No
filme A Branca de neve e os sete anões, a Rainha má perguntou certa vez:
“Espelho,
espelho meu... Há no mundo alguém mais bela do que eu”?
Perceba... Você acorda pela manhã e,
no espelho, vê um rosto todo amassado, cabelos desgrenhados e exclama: “Puxa,
que aparência horrível! Não posso sair assim na rua...” Então, você resolve
tomar uma providência urgente. Você lava o rosto, penteia os cabelos, escova os
dentes, mira o espelho novamente e: “Ahhh! Agora sim! Bem melhor!” E sai para
viver o seu dia.
Todos nós podemos ver o nosso corpo, a
nossa aparência, com a ajuda de um espelho. Contudo, se olharmos com mais
atenção, vamos perceber que não somos só aparência exterior, ou só um corpo que
perambula por aí.
Além da dimensão corporal, material,
temos uma dimensão imaterial ou sutil também. Além de um corpo, você tem uma
mente cheia de pensamentos, ideias, emoções e sentimentos. Ainda que não possa
ser vista no espelho, é esta mente que anima o seu corpo.
Portanto, é a dimensão sutil, a sua
mente, que conduz, dirige, orienta e guia o seu corpo, a sua vida ou o destino.
Logo, seria muito importante para você, para o seu corpo, para a sua vida e
para este mundo, se houvesse um espelho capaz de apresentar, revelar, ou
mostrar a você, também esta outra dimensão, ou seja, a sua mente.
Olhando apenas para a dimensão
corporal, você diz: “Credo! Não posso sair a rua desse jeito! Minha aparência é
horrível!” Contudo, quase todo mundo sai para a rua, para viver o seu dia, sem
se dar conta de como está a sua mente!
Geralmente temos muito cuidado e zelo
com nosso corpo. Nós o lavamos e limpamos quando está sujo e cheirando mal. Às
vezes, nós o enfeitamos e perfumamos com fragrâncias caríssimas. Mas, que
cuidados temos com a nossa mente? Sabemos cuidar dela¿ Como se faz para
limpá-la e mantê-la perfumada e saudável?
Ter um corpo considerado muito bonito
ou muito feio, não importando a mente que está ali, pode decretar sucesso ou
fracasso –, mas tal visão parece demasiado estreita.
Perceba... Aquilo que realmente
importa quase nunca é visto, percebido ou levado em consideração. Preferimos
dar importância as aparências, negligenciando toda a essência. Atentamos para a
forma, a embalagem, sem ver o conteúdo. Só por causa disso, criamos uma
infinidade de problemas e confusões para nós mesmos e para todos os seres deste
mundo.
Está claro que a nossa curiosidade,
preocupação e atenção deveriam avançar, ir mais além. Você sabe que possui uma
mente? Está consciente dela? Como ela é realmente? Você a conhece de fato? Que
som ou cheiro emana dela? Ela tem impurezas e contaminações? Qual o sexo da sua
mente? masculino? Feminino? Você sabe do que a mente é feita? E do que ela é capaz? O que ela faz? Como e por quê? Até onde vai a sua influência? Quais pensamentos
ela cultiva? Quantos acúmulos ela possui? O que a afeta? Você tem liberdade
frente a sua própria mente? Você sabe como purifica-la? Quando seu corpo
desaparece, a sua mente desaparece?
Perceba... É no mínimo uma temeridade
ou imprudência sair para a vida desconhecendo, desconsiderando ou ignorando a
nossa dimensão mais relevante.
Pode parecer inacreditável, mas a
maior parte das pessoas neste mundo sequer suspeita ser dotado de uma dimensão
imaterial. Parece que a visão e presença do corpo ofuscam a da mente. Assim,
grande parcela das pessoas vive somente em função do seu corpo, envolvida
somente com ele, sua aparência e suas necessidades.
Passamos cada dia e, consequentemente,
a vida inteira tentando satisfazê-lo com comida, roupas, bens, conforto, sono,
sexo, prazeres. Levamos o corpo para passear, etc.. Os pensamentos que emitimos
sempre envolvem preocupações ligadas ao corpo, ou ao corpo das pessoas com quem
convivemos. “Que tal estou? Estou bem?” “Viu como fulano está horrível?” ou
“Como ela está velha, não dá mais para esconder...”
A coisa que mais amamos e valorizamos,
portanto, é o nosso corpo. Algumas mulheres, quando percebem que seu corpo
decaiu naturalmente, em função da idade, entram em profunda crise existencial e
depressão. As pessoas vivem observando os diferentes tipos de corpos existentes
e disponíveis, mas, em geral, não reparam, não atentam para o tipo de mente que
cultivam e que está a comandar as suas vidas. Então, infelizmente, o resultado
final disso é um estado de grande confusão. Sofrimento, pois é bastante óbvio
concluir que nossa juventude é fugaz e que nosso corpo não é eterno, fluindo
como tudo no universo.
Ter cuidados e asseio com relação ao
corpo é uma coisa. Levar a vida apenas em função dele faz tudo o mais perder o
sentido. Sem considerarmos e cuidarmos também da mente, que orienta e dirige
este corpo, não podemos ter qualquer noção sobre o que, de fato, fazemos aqui,
de onde viemos, para onde vamos, ou aonde queremos chegar. Ficamos perdidos e
desorientados. Nosso destino é necessariamente uma incógnita, pois tudo o que
sabemos diz respeito ao corpo.
Todos os dias, banhamos o nosso corpo
a fim de purifica-lo, expurga-lo das impurezas e sujeiras do mundo. Sim, isso é
excelente! Mas como purificar ou higienizar a nossa mente? Pode ser que jamais
tenhamos feito isso em toda a nossa vida! Sem jamais limparmos os diversos
acúmulos retidos em nossa mente, pode ser impossível manter um corpo verdadeiramente
limpo e saudável.
É por um motivo assim tão singelo, por
esta desconsideração, por esta desarmonia e desequilíbrio entre corpo e mente,
entre aparência e essência, forma e conteúdo, - ou melhor, porque o homem
habituou-se a ignorar a sua dimensão sutil (em detrimento da dimensão
grosseira) -, que enfrentamos tantas dificuldades, sofrimentos e doenças nesse
mundo.
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