22 de out. de 2014

O espelho interior


No filme A Branca de neve e os sete anões, a Rainha má perguntou certa vez:
“Espelho, espelho meu... Há no mundo alguém mais bela do que eu”?
Perceba... Você acorda pela manhã e, no espelho, vê um rosto todo amassado, cabelos desgrenhados e exclama: “Puxa, que aparência horrível! Não posso sair assim na rua...” Então, você resolve tomar uma providência urgente. Você lava o rosto, penteia os cabelos, escova os dentes, mira o espelho novamente e: “Ahhh! Agora sim! Bem melhor!” E sai para viver o seu dia.
Todos nós podemos ver o nosso corpo, a nossa aparência, com a ajuda de um espelho. Contudo, se olharmos com mais atenção, vamos perceber que não somos só aparência exterior, ou só um corpo que perambula por aí.
Além da dimensão corporal, material, temos uma dimensão imaterial ou sutil também. Além de um corpo, você tem uma mente cheia de pensamentos, ideias, emoções e sentimentos. Ainda que não possa ser vista no espelho, é esta mente que anima o seu corpo.
Portanto, é a dimensão sutil, a sua mente, que conduz, dirige, orienta e guia o seu corpo, a sua vida ou o destino. Logo, seria muito importante para você, para o seu corpo, para a sua vida e para este mundo, se houvesse um espelho capaz de apresentar, revelar, ou mostrar a você, também esta outra dimensão, ou seja, a sua mente.
Olhando apenas para a dimensão corporal, você diz: “Credo! Não posso sair a rua desse jeito! Minha aparência é horrível!” Contudo, quase todo mundo sai para a rua, para viver o seu dia, sem se dar conta de como está a sua mente!
Geralmente temos muito cuidado e zelo com nosso corpo. Nós o lavamos e limpamos quando está sujo e cheirando mal. Às vezes, nós o enfeitamos e perfumamos com fragrâncias caríssimas. Mas, que cuidados temos com a nossa mente? Sabemos cuidar dela¿ Como se faz para limpá-la e mantê-la perfumada e saudável?
Ter um corpo considerado muito bonito ou muito feio, não importando a mente que está ali, pode decretar sucesso ou fracasso –, mas tal visão parece demasiado estreita.
Perceba... Aquilo que realmente importa quase nunca é visto, percebido ou levado em consideração. Preferimos dar importância as aparências, negligenciando toda a essência. Atentamos para a forma, a embalagem, sem ver o conteúdo. Só por causa disso, criamos uma infinidade de problemas e confusões para nós mesmos e para todos os seres deste mundo.
Está claro que a nossa curiosidade, preocupação e atenção deveriam avançar, ir mais além. Você sabe que possui uma mente? Está consciente dela? Como ela é realmente? Você a conhece de fato? Que som ou cheiro emana dela? Ela tem impurezas e contaminações? Qual o sexo da sua mente? masculino? Feminino? Você sabe do que a mente é feita? E do que ela é capaz? O que ela faz? Como e por quê? Até onde vai a sua influência? Quais pensamentos ela cultiva? Quantos acúmulos ela possui? O que a afeta? Você tem liberdade frente a sua própria mente? Você sabe como purifica-la? Quando seu corpo desaparece, a sua mente desaparece?
Perceba... É no mínimo uma temeridade ou imprudência sair para a vida desconhecendo, desconsiderando ou ignorando a nossa dimensão mais relevante.
Pode parecer inacreditável, mas a maior parte das pessoas neste mundo sequer suspeita ser dotado de uma dimensão imaterial. Parece que a visão e presença do corpo ofuscam a da mente. Assim, grande parcela das pessoas vive somente em função do seu corpo, envolvida somente com ele, sua aparência e suas necessidades.
Passamos cada dia e, consequentemente, a vida inteira tentando satisfazê-lo com comida, roupas, bens, conforto, sono, sexo, prazeres. Levamos o corpo para passear, etc.. Os pensamentos que emitimos sempre envolvem preocupações ligadas ao corpo, ou ao corpo das pessoas com quem convivemos. “Que tal estou? Estou bem?” “Viu como fulano está horrível?” ou “Como ela está velha, não dá mais para esconder...”
A coisa que mais amamos e valorizamos, portanto, é o nosso corpo. Algumas mulheres, quando percebem que seu corpo decaiu naturalmente, em função da idade, entram em profunda crise existencial e depressão. As pessoas vivem observando os diferentes tipos de corpos existentes e disponíveis, mas, em geral, não reparam, não atentam para o tipo de mente que cultivam e que está a comandar as suas vidas. Então, infelizmente, o resultado final disso é um estado de grande confusão. Sofrimento, pois é bastante óbvio concluir que nossa juventude é fugaz e que nosso corpo não é eterno, fluindo como tudo no universo.
Ter cuidados e asseio com relação ao corpo é uma coisa. Levar a vida apenas em função dele faz tudo o mais perder o sentido. Sem considerarmos e cuidarmos também da mente, que orienta e dirige este corpo, não podemos ter qualquer noção sobre o que, de fato, fazemos aqui, de onde viemos, para onde vamos, ou aonde queremos chegar. Ficamos perdidos e desorientados. Nosso destino é necessariamente uma incógnita, pois tudo o que sabemos diz respeito ao corpo.
Todos os dias, banhamos o nosso corpo a fim de purifica-lo, expurga-lo das impurezas e sujeiras do mundo. Sim, isso é excelente! Mas como purificar ou higienizar a nossa mente? Pode ser que jamais tenhamos feito isso em toda a nossa vida! Sem jamais limparmos os diversos acúmulos retidos em nossa mente, pode ser impossível manter um corpo verdadeiramente limpo e saudável.

É por um motivo assim tão singelo, por esta desconsideração, por esta desarmonia e desequilíbrio entre corpo e mente, entre aparência e essência, forma e conteúdo, - ou melhor, porque o homem habituou-se a ignorar a sua dimensão sutil (em detrimento da dimensão grosseira) -, que enfrentamos tantas dificuldades, sofrimentos e doenças nesse mundo.

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