Infelizmente, neste momento, a
condição da maioria das pessoas e seres deste mundo é de total adormecimento e
inconsciência. As pessoas estão presas às contaminações que trazem em suas
mentes.
E não importa o tamanho da pirueta que
possamos dar na vida e nesse mundo. Não importa a boa situação econômica
alcançada. Nada disso resolve, é apenas mais ilusão. Vivemos presos,
apreensivos, angustiados, com medo de sofrer, de sentir dor e buscando uma
felicidade que não sabemos onde pode ser encontrada, ou no que consiste.
Vivemos assombrados entre a esperança e o medo. Esperança de que nossa situação
melhore ou permaneça bem, e temor de que tudo piore, de que possamos perder o
que já conquistamos.
E, assim, a existência cíclica vai
sendo impressa no interior da mente.
O resumo da ópera nos revela que o
nosso “eu” vive experiências que na sua própria avaliação e julgamento,
basicamente, são de três tipos: agradáveis, desagradáveis e neutras.
Aquelas experiências que o nosso “eu”
considerar sendo agradáveis, que nos proporcionaram sensações prazerosas,
naturalmente o “eu” fará tudo para repetir, para vivenciar novamente e
novamente. A partir daí surge a energia de hábito do Apego, que nos conduzirá
recorrentemente aos prazeres, êxtases, gozos, enfim, e poderá nos trazer
impressões relacionadas aos reinos superiores ou celestiais.
Aquelas experiências que o nosso “eu”
considerar como sendo desagradáveis, que nos proporcionaram sensações
repulsivas, o “eu” fará tudo para afastar, repelir, evitar, fugir, a fim de não
vivenciá-las novamente e novamente. A partir daí, surge a energia de hábito da
Aversão, que nos conduzirá recorrentemente aos desprazeres, agonias, e poderá
nos trazer impressões relacionadas aos reinos inferiores ou infernais.
Aquelas experiências que o nosso “eu”
considerar como sendo neutras, que nos proporcionaram sensações nem prazerosas
nem desprazerosas, o “eu” fará tudo para que elas permaneçam neutras. A partir
daí, surge a energia de hábito da Indiferença, que nos manterá num estado de
neutralidade, apatia, dúvida e medo, o que poderá nos trazer impressões
relacionadas aos reinos intermediários da existência cíclica.
Neste momento, olhe bem para o nosso
planeta... Veja como ele está ficando após tantas intervenções promovidas pela
mente confusa, cheia de ódio, apego e de tanta indiferença do homem. Este
maravilhoso planeta Terra, a nossa Grande Mãe, se parece muito com o paraíso,
mas o homem o está desequilibrando tanto, que ele esquenta cada vez mais, e
começa a ficar parecido com o inferno...
Jesus e Buda, além de visitarem o
reino humano, falavam, enxergavam e ensinavam sobre um reino de profunda paz e
felicidade aqui e agora mesmo. Este, porém, seria um mundo invisível à visão
das mentes e corações encharcados em tantos venenos. Eles apontavam para a
falta de sanidade e visão entre as mentes dos homens.
Jesus e Buda não vieram aqui para
apontar para o céu, purgatório e para o inferno. Eles apontavam para a
Ignorância, para a confusão e contaminações nas mentes e, especialmente, para a
sanidade plenamente alcançável de se ter um coração sereno, livre e
desobstruído. Eles apontavam para o fato de todos os seres humanos já serem
portadores de um coração e mente de pura sanidade. Mas, desatentos, distraídos
e acorrentados às camadas de acúmulos e hábitos, os seres humanos não conseguem
vislumbrar ou experimentar tal essência pura, desobstruída e natural.
Agora você pode ver que, na verdade, a
sanidade está sempre conosco, apenas não a reconhecemos. A nossa sanidade nunca
nos abandonou. Estamos sempre completamente unidos a ela, pois ela é a nossa
própria essência. Então, como religar o que nunca foi desligado - apenas
esquecido? Este é o enigma (koan) da existência cíclica e o remédio de que
necessitamos nesse mundo.
Quando chega ao seu coração verdadeiro
e original, você está além da mente, além de “eu” e “não eu”, além da vida e da
morte, além de samsara e nirvana, além de sofrimento e não sofrimento. Não
importa onde esteja fisicamente, você habita as profundezas, onde seu coração
permanece sempre intocado e perfeito. Não importa o que você sofreu e a todos
os seres a quem impôs os seus obscurecimentos. Você liberta, espontaneamente e
de uma só vez, todos os seres vinculados ao seu carma desde tempos sem início.
Quando alcança a sanidade, nem há mais
caminho, pois esteja onde estiver, você já chegou! Seus pés andam por andar,
sem pressa de ir ou ficar. Quando alcança a sanidade, você vê com nitidez e
clareza que o universo inteiro é o seu coração e, na dimensão sutil, o universo
inteiro é o seu templo.
Ainda que o seu rosto, a sua face, o
seu corpo, a sua forma possam mudar, aparecer, desaparecer, ora aqui, ora ali,
você está sempre no seu reino, no reino do seu coração e mente. E cedendo ao
fluir maior da existência, você agora pode desfrutar, desperto, atento e
consciente. Você repousa na sua essência profundamente misteriosa e mutante com
o único propósito de prestar auxílio aos seres que sofrem sem saber.
O seu reino flui na sua direção,
gerado pelo que você pensa, sente e faz agora mesmo. O seu reino vive se
tornando manifesto, a cada momento, bem diante de seus olhos. Se houver ódio em
seu coração e mente, cedo ou tarde, os frutos amadurecerão. Então, um mundo
odioso virá até você. Mas, ainda assim, sempre será possível a transformação e
sanidade. Mesmo num universo inteiramente hostil e odioso, você pode
refugiar-se na sua pura sanidade, evitando que seu coração e mente se
contaminem e passem a propagar obscurecimentos também.
Quando desperta dentro da sua própria
mente, de repente, você não se sente mais como um ser castigado, exilado,
oprimido, obrigado a viver “andando de elevador”, ou seja para cima e para
baixo. Você compreende que qualquer lugar é o “Nirvana” e que você deve ir
ainda mais além. Somente então a flor do profundo amor e compaixão poderá
desabrochar em você, transformando obscurecimentos em sabedoria.
Profundo amor e compaixão significam
apenas olhar para si mesmo até não haver mais “eu, meu, minha”. Então, você não
cultiva nem sustenta, nenhum grande pensamento, nenhuma ideia, nenhuma
estrutura mental rígida. Você apenas olha e vê o universo inteiro simplesmente
como é: a pura flor da sanidade em sua mente e em seu coração. Nada a dizer.
Apenas silêncio... Você sorri, e o pequeno botão de profundo amor e compaixão
transforma obscurecimento e sofrimento em uma linda flor de sabedoria. A flor
da sanidade desabrocha em seu peito.
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