23 de out. de 2014

A bússola e o navio


A nossa mente está para o nosso corpo assim como uma bússola está para um navio. Uma boa bússola está sempre coerente com o fluxo magnético maior, a energia ligada ao planeta Terra como um todo. Essa é a qualidade básica e verdadeira de uma bússola.
Se olhar com bastante atenção, você verá que não podemos compreender uma bússola sem levar em conta o universo inteiro.
É lamentável o modo estreito como as pessoas, às vezes, olham para si mesmas e para as coisas deste mundo. Elas não veem, não sentem, não percebem que interexistem com esse planeta, não percebem que interexistem com as demais pessoas e com a existência exatamente como uma bússola.
Na verdade nosso corpo é o universo inteiro. Olhando para um ser humano deveríamos ver, dentro dele, a chuva, o ar, a terra, as plantas, as montanhas, o rio, o oceano, e também o sol em seu coração. Essa é uma visão extraordinária e real.
É exatamente essa surpreendente propriedade, de estar a cada momento perfeitamente conectada com o todo, que faz a bússola servir de guia para a orientação das embarcações. Isto é muito interessante! Nós seres humanos, deveríamos ser assim também.
Contudo, se a bússola do nosso barco – a nossa mente -, por algum motivo imperceptível a nós, for perturbada, de modo que haja um desvio irregular da agulha magnética, então a bússola perderá a sua correta direção com o fluxo maior de energia. Pensamos estar no caminho certo, mas sem perceber vamos abandonando a nossa rota original, harmoniosa e equilibrada, e adotamos um rumo que nada tem a ver com o fluxo maior e natural.
Nossa mente conduz nossa jornada e a partir dela são tomadas as decisões com respeito ao nosso destino. Assim, apesar de completamente iludidos, avançamos confiantes e orgulhosos, empenhados em nossas tarefas diárias, sem imaginar que tudo isso será completamente infrutífero, pois estamos nos afastando cada vez mais do nosso verdadeiro caminho.
Enquanto não despertarmos para o que de fato está ocorrendo, enquanto não percebermos que o nosso principal instrumento (a mente) está avariado, viciado, e necessita ser calibrado, nosso barco perde-se a cada dia mais. Enquanto o defeito não se revela, um imenso oceano se descortina bem à nossa frente. Misterioso e desafiador, estufamos o peito, cheios de esperanças, sonhos e medo, mas tudo é apenas ilusão.
Dessa maneira enganosa, nossa mente perturbada - está lá, a nos (des) encaminhar de momento a momento.
Um dia, um velho e calejado marinheiro, todavia, cruza o nosso caminho e grita: “Ei, aonde pensam que vão? Há um abismo a frente! Voltem! Corrijam esse rumo, depressa seus imbecis”! Com certeza, isso nos deixará assustados por uns poucos instantes. Olhamos para a nossa bússola e através da nossa própria experiência, perícia e habilidade, acreditamos estar na direção certa. Então só nos resta cair na gargalhada pelo susto que nos pregou aquele pobre diabo. Vamos dizer, rindo uns para os outros, que o coitado não sabe mais o que diz. É só mais um daqueles velhos lobos do mar esclerosados pelo rigor do sol, do sal e da solidão. “Nunca estivemos tão certos! Ele é quem está doido! Pobre velho, senil e gagá! Imagina: abismo a frente” hahaha”!  damos a ele o nosso melhor menosprezo, pois não temos consciência alguma da influência danosa sobre a nossa bússola (a nossa mente).
Todavia, apesar de parecer tão real, tudo que vivenciamos tem a qualidade de uma grande ilusão. Sem saber, fomos apanhados e afundamos cada vez mais na armadilha, que nós mesmos vamos construindo e aperfeiçoando. A cada dia estamos mais longe do nosso destino original e verdadeiro.
E sem um rumo coerente com o fluxo maior das coisas, todos os nossos esforços e atos são completamente sem razão de ser. A verdade é que estamos completamente enganados e perdidos.
É isso o que acontece quando nossa mente não está operando conectada ao fluxo maior de todas as coisas, coerente com o planeta. Sem termos consciência, ingenuamente seguimos adiante, predestinados ao fracasso em nossa jornada.
A verdade maior é que atuamos a partir de uma visão distorcida e iludida. Ainda temos pouca noção do que estamos fazendo a nós mesmos e a este mundo – não temos a menor noção de aonde vamos chegar com nossos pensamentos, emoções e ações.
Sem uma mente conectada ao todo, seguimos na contra mão do fluxo natural e maior de todas as coisas. Desconectados da nossa sanidade, tomamos as aparências como se fossem a realidade última, e o resultado disso é o crescimento constante do nosso sofrimento.
Enquanto não percebermos e não removermos aquela influência prejudicial que atua sobre a nossa mente, será muito difícil acordarmos e abrir os olhos para a realidade.
Por mais perfeito que possa ser o nosso corpo, por mais que a comida seja saborosa, a água abundante e pura, por mais confortável e divertida que possa estar sendo a nossa viagem nessa vida, ainda assim, estamos sem rumo. Quanto mais permanecemos nesse estado, mais nos afastamos do nosso destino original e, especialmente, do encontro com a nossa verdadeira natureza.

Sem uma mente ligada à totalidade, sem uma mente em harmonia (interna e externamente) com todas as coisas e seres, não chegaremos a lugar algum, muito menos ao nosso tão sonhado destino final: a sanidade.

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