10 de nov. de 2014

Lucrando com as perdas


Lama Surya Das diz:
Nos últimos tempos, aonde quer que eu vá, as pessoas me perguntam como lido com o medo, a raiva e a dor. Pedem orientação para curar as feridas e os ressentimentos causados por fatos traumáticos em suas vidas.
Muitos homens e mulheres ainda estão cambaleando emocionalmente sob o peso de traumas recentes, quer sob a forma de desilusões, perdas individuais ou acontecimentos sociais caóticos.
Frequentemente, os conselhos que nos dão para lidar com a dor ou a mágoa não ajudam em nada. Retaliação, vingança e raiva podem proporcionar alguma satisfação inicial, mas não são realmente as respostas que buscamos. Nem desespero ou impotência. Mas existe uma abordagem que fica no meio, na qual o sofrimento pode ser transformado em compreensão, compaixão, sabedoria e até mesmo paz. Isso é possível para todos nós, se decidirmos promover essa transformação, independentemente de quem somos, onde viemos ou no que acreditamos. O reverendo Martin Luther King disse que temos apenas duas escolhas: “viver juntos como irmãos ou perecermos juntos como tolos”. É absolutamente de nosso interesse nos unirmos, se não quisermos ser destruídos.
Buda disse que sem dificuldades e problemas não conseguimos crescer nem aumentar a força interior, a tolerância paciente, a maturidade emocional e a visão. Tudo muda, mas o que é real e verdadeiro permanece. Aprendi que, “se você realmente quiser crescer e aprender como pessoa, precisa entender que o universo o matriculou na escola da vida, que se chama perda”.
Existe uma história sobre um buscador que viaja ao Himalaia procurando um Buda Iluminado que possa lhe transmitir ensinamentos. O buscador quer a última palavra sobre a questão da iluminação. Depois de caminhar por trilhas difíceis durante dias e dias, ele começa a abandonar o equipamento pesado à medida que se aproxima de um alto pico no Nepal. Primeiro abandona a tenda, depois o equipamento de camping e finalmente a mochila pesada. Despido de quase tudo, e tendo respirado centenas de milhares de vezes, começa a esquecer suas preocupações mundanas. Está pronto para chegar e ouvir. Ele se arrasta até a última crista da montanha e vê a entrada de uma caverna. Surpreendentemente, vê um mestre búdico sentado ali. Maravilhado, aliviado e feliz, o buscador pergunta ao sábio: “Qual é o primeiro princípio? Qual é o seu ensinamento mais importante e verdadeiro?
O buscador acha que esse será o grande momento de sua vida e que está prestes a se iluminar. Vai descobrir a grande verdade, sobre a qual deve refletir. E o Buda responde: “Dukkha. A vida é sofrimento, a vida é frágil, a vida é difícil”. O buscador fica totalmente desapontado. Olha ao seu redor e grita com selvageria: “Há mais alguém aqui com quem eu possa falar”?
Eu adoro essa história. O que fazer quando vivemos algo que não é o que esperávamos ou, pior ainda, quando vivemos algo realmente difícil? Felizmente, existem muitos ensinamentos maravilhosos, deixados por Buda, que nos dão orientação. Os ensinamentos nos ajudam a lidar inteligentemente com perdas, mudanças e medo, e também com as grandes perguntas, como o sentido da vida e a chave da felicidade. Além disso, ensinam sobre morte e sofrimento, e como utilizar tudo como meio de transformação.
A versão dada por um sábio sobre a Primeira Nobre Verdade da Dukkha (insatisfação) é que na vida a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. A dor e o sofrimento nos mostram onde estamos mais apegados a nós mesmos – por exemplo, ao nosso corpo ou às pessoas que amamos.
Acho que esta é a hora de nos transformarmos em guerreiros da paz e do diálogo. Temos que aprender a dura lição que afirma que sem a dor – ou a irritação interior – as pérolas da sabedoria não se produzirão dentro de nós. Chamo isso de Princípio da perola: sem dor, não existe transformação para melhor.
Dentro de uma ostra, é preciso que um irritante – como um grão de areia ou pedaço de concha – estimule a ostra a produzir as secreções de muco que envolverão o agente irritante, cristalizando-se finalmente em pedra preciosa. Com os seres humanos acontece o mesmo, independentemente de quanto desejamos que tudo seja de outra maneira. As dificuldades e o sofrimento produzem o desejo de iluminação espiritual, e é essa aspiração que motiva ao longo do caminho do despertar e da libertação. Nem há crescimento sem as dores do crescimento.
Acho que a virtude, ou paramita (perfeição transcendental), mais útil ao enfrentar as dificuldades e o sofrimento é a paciência. Ela exige certo tipo de expansão, uma aceitação e uma fusão generosas, em vez de retração e separatividade. Exige tempo, paciência e bravura, mas penso que Shanti é de grande importância para suportar melhor a dor e a tristeza.

E Lama Surya Das finaliza:

Enfrente suas dificuldades realisticamente, em vez de fugir delas, e muitas riquezas poderão ser suas. Ao se defrontar com dor e má sorte, simplesmente pare e centre-se em si mesmo, no aqui e agora, respire profundamente, sente-se e concentre-se. Também podem tentar rir, de uma forma ou de outra. Ria com uma risada cósmica, anime-se, e a iluminação virá.

palavras de Lama Surya das

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