Buda
ensinou que este é um mundo imperfeito.
Perceba... Nada é completamente da
maneira como queremos que seja. Essa é a realidade. Ao atingirmos a
adolescência, quase todos descobrimos que essa realidade se torna mais evidente
no contato com as outras pessoas. Temos que admitir que, por natureza, os
relacionamentos são desafiadores. As pessoas nem sempre se comportam como
queremos, não dizem o que queremos que elas digam; não fazem o que queremos que
elas façam; não nos tratam da maneira como queremos ser tratados. Quais as
nossas opções e nossas escolhas? Sabemos que a relação humana é fundamental
para a nossa felicidade e extremamente importante para o nosso crescimento e
bem estar pessoal.
Os nossos relacionamentos, quer sejam
passageiros ou duradouros, intensos ou casuais, oferecem laboratórios pessoais
onde podemos colocar em prática nossas intenções espirituais. E nossos
propósitos para o despertar são bastante claros: estamos nos esforçando para
ser mais interessados e pacientes, mais generosos e amorosos... Na verdade,
descobrir maneiras de interagir com os outros de maneira habilidosa e
compassiva resume em grande parte os objetivos do nosso caminho espiritual.
Até os praticantes de meditação mais
experientes às vezes se esquecem de que o treinamento da meditação tem a
intenção de ser uma prática que irá nos ajudar a lidar com os outros e a
enfrentar os altos e baixos da vida com mais habilidade. Percebemos como isso é
verdadeiro quando observamos os grandes mestres da meditação; eles conseguem
permanecer imperturbáveis e conscientes, independentemente do que esteja
acontecendo ao redor deles. Este é um dos muitos benefícios da meditação. Ela
nos ajuda a nos relacionarmos com a vida e com as pessoas de maneira mais equilibrada.
Neste momento observe a sua
respiração...
Meditação é isso.
Treinamos a plena atenção. Estou
consciente da sensação no momento presente, mas me liberto da tendência de
reagir naquele momento. Digamos, por exemplo, que você sinta uma coceira no dedão.
Basta ter consciência do dedo que está coçando. Não precisa fazer nada a
respeito – não precisa reagir e coçar. Pode simplesmente se desligar...
perceber o fato e deixar que ele exista. Esse é o significado de soltar-se.
A meditação é a maneira de religar o
indivíduo ao todo, de nos tornar conscientes da nossa contínua conexão e
comunhão, que nunca foi, na verdade, interrompida.
A meditação nos ensina a retornar à
simplicidade, permanecendo conscientes do essencial e libertando-nos do
irrelevante. E esta é uma habilidade inestimável na nossa vida complexa e
agitada, na qual podemos aprender a nos libertar de muitas coisas. Não estou me
referindo aos bens materiais; estou falando que podemos nos libertar de
atitudes, de hábitos, podemos nos libertar de ressentimentos com relação ao
passado, bem como de sonhos extravagantes com relação ao futuro.
A meditação nos ajuda a abandonar as
nossas reações irrefletidas diante das pessoas e das situações; ensina a nos
libertarmos do apego ao pensamento discursivo e da identificação do ego, que
fazem com que percebamos tudo como tendo relação “comigo” e com o que é “meu”.
Podemos aplicar essas lições a tudo que fazemos.
Buda ensinou que precisamos aprender
primeiro a meditar em silêncio, com frequência, sozinhos em um aposento ou com
outras pessoas que estejam se dedicando à mesma atividade. Na meditação
silenciosa, é relativamente fácil reconhecer e permanecer consciente dos
pensamentos, emoções e condicionamentos que invadem a nossa concentração e
interferem nela. Mas depois de dominarmos essa técnica, levamos as lições da
meditação ao mundo, onde todos os nossos botões – nosso ódio, apego, ciúme,
inveja, cobiça, tem a probabilidade de serem apertados regularmente.
Quando nos vemos em situações com as
quais estamos fortemente envolvidos, é difícil não reagir de um modo impulsivo.
Por isso, acredito ser uma boa ideia nos dirigirmos a nós mesmos e as outras
pessoas com compaixão, paciência, sensibilidade e delicadeza.
A
mensagem de hoje é:
Apenas observe a si mesmo. Fique atento. Repare como você
reage diante dos outros. Procure levar uma clareza de atenção a todas as
interações, e tente perceber qual dos seus botões está sendo apertado. Observe
o surgimento das reações habituais, reflexas e frequentemente inconscientes. Dê
nome a elas e libere-as. O fato de fazer isso não significa que nunca mais vá
ficar zangado ou ressentido; significa que pode canalizar emoções como a raiva
e o ressentimento com mais eficácia. Emoções como a raiva são meramente energia
emocional. Isso significa que podemos optar por intervir entre a experiência da
raiva e sua expressão.
A
partir de hoje você pode seguir uma prática de plena atenção que envolve quatro
pequenos passos como uma maneira de lidar com suas emoções:
1- Preste
atenção ao que está sentindo.
Não negue o que estiver sentindo. Simplesmente observe cada sentimento que
surgir e dê nome a ele – raiva, luxúria, irritação.
2- Em vez
de rejeitar o sentimento, acalente-o com amor, abrace-o com consciência. Reconheça
o sentimento pelo que é – meramente um sentimento que está surgindo.
3- Reflita
sobre o que você está sentindo.
Analise e examine o sentimento. Você está tendo uma reação irrefletida? O seu
sentimento é justificável?
4- Tome
uma decisão sensata.
Lembre-se de que, por mais forte que seja seu sentimento, nada permanece igual.
O sentimento irá mudar e outro o substituirá. Com isso em mente, use a
inteligência espiritual e o entendimento do carma para fazer uma escolha
adequada a respeito de como agir.
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