Desejo:
O grande obstáculo à Ação Correta
O desejo, ou cobiça, necessidade,
anseio, não importa como seja chamado, é um dos cinco obstáculos, ou desafios,
que o Buda avisou aos buscadores que enfrentariam no caminho para o despertar.
Quando o Darma (ensinamentos espirituais) de Buda fala sobre desejo, ele quer
dizer fome e sede psicológicas, desejo não saudável, anseio, apego ou fixação
psicológica.
Quem dentre nós está tão realizado e
contente que esteja acima deste tipo de desejo? Não há nada faltando em sua
vida agora? Quando tentamos refinar e purificar nossas ações, precisamos estar
conscientes das muitas formas pelas quais nossos desejos criam armadilhas no
caminho espiritual.
Diz-se que a visão de um ladrão é tão
distorcida que, até quando encontra um santo, tudo o que ele enxerga é a bolsa
do santo. Pergunte a si mesmo: existe alguma coisa ou alguém que você deseja
tanto que chega a prejudicar seu julgamento e sua visão? O que você deseja? Existe alguma coisa capaz de gerar em você sentimentos tão intensos, que a
tentativa de sua obtenção se torna um substituto para o desenvolvimento
espiritual? Já foi dito muitas vezes que todos têm seu preço; Qual é o seu?
Enfrentar o desafio do desejo é uma
experiência que nos confunde. Às vezes é tentador olhar para um obstáculo
qualquer e racionalizá-lo, dizendo que não é exatamente desejo o que sentimos,
mas na verdade é outra coisa. Por exemplo:
Você não acredita que “cobiça”
dinheiro e sucesso; você acha que só está tentando ganhar a vida para a
família. Entretanto, quando você está vendendo alguma coisa, perde
completamente a noção de humanidade da outra pessoa à sua frente, e também do
certo e errado. Só consegue pensar em fechar o negócio, que é uma forma de
vender e afirmar a seu domínio e superioridade. O dinheiro significa mais para
você do que a sobrevivência. É a sua forma de se afirmar.
O processo de purificação dos desejos
e apegos é complexo e sutil. Algumas vezes queremos tanto uma coisa que achamos
impossível desistir dela. Agarrados a nossos objetos de desejo, somos
arrastados e perdemos completamente a perspectiva. Nossa mão agarra com tanta
força, que a mente fica com o equivalente a queimaduras de corda nas mãos, de
tanto se agarrar, quando na verdade o assunto, em momento nenhum, foi questão
de vida e morte.
Desejo provoca mais desejo. Muitos de
nós vivemos sempre “querendo” alguma coisa; estamos convencidos de que assim
encontraremos a felicidade. Entretanto, o incessante passar de um objeto de
desejo para outro só perpetua padrões de dependência e de insatisfação em
nossas vidas. Pode ser um relacionamento melhor, sexo melhor, um emprego
melhor, roupas melhores, uma casa melhor, um carro melhor, ou um estado de
espírito melhor – não importa, o desejo consome a vida das pessoas. E da mesma
forma que beber água salgada não mata a sede, satisfazer desejos momentâneos
não resolve – pelo menos não por muito tempo.
No caminho espiritual, temos que estar
preparados para lutar com desejos compulsivos diversas vezes. Observe aquilo
que deseja, o que o atrai ou repele mais. Verifique quais os botões que são
mais apertados por estímulos externos, e como você reage a cada um deles. Todos
nós investimos intensidade emocional e energia na avidez, na conquista, na
acumulação e no apego. Como isso acontece? O que você ganha com isso? Reúna os
suspeitos habituais e olhe para eles – amor, gratificação do ego, sexo,
prazeres sensuais, dinheiro, posses, fama, segurança, poder.
Quando o Buda deu o Sermão do Fogo
para mil discípulos em Gaya, disse a eles: “Tudo está queimando... Queimando
com o fogo da cobiça, do ódio, da ilusão”. Não deseje nada, e você estará
liberado. O terceiro patriarca Zen cantou: “O caminho não é difícil para
aqueles que não têm preferências”.
A
mensagem que fica desse ensinamento é que quando você faz escolhas nas quais
vai basear suas ações, observe para ver o que o está motivando. A ausência de
desejos é a paz do Nirvana – um estado de plenitude e paz interior, sem se
deixar afetar por influências externas. Abandonar os apegos e as coisas às
quais estamos agarrados acaba valendo a pena. Então, deixe fluir...
por Lama Surya Das
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