Hoje
falaremos um pouco sobre o poder do vazio...
Aconteceu de um homem muito rico
morrer e no mesmo dia um mendigo da cidade também morrer. O nome do mendigo era
Lázaro. O homem rico foi diretamente para o inferno e Lázaro, diretamente para
o céu. O homem rico olhou para cima e viu Lázaro sentado perto de Deus; então
gritou para o céu: “Parece que houve um engano. Eu deveria estar aí e esse
mendigo Lázaro deveria estar aqui!”
Deus sorriu e disse: “Aqueles que são
os últimos serão os primeiros, e aqueles que são os primeiros serão os últimos.
Você já usufruiu o primeiro lugar por tempo suficiente, agora vamos deixar
Lázaro de divertir um pouco”.
E o homem rico estava se sentindo
muito quente – é claro que no inferno ninguém tem ar condicionado. Ele estava
sentindo muita sede e não havia água. Assim, gritou novamente e disse: “Deus,
por favor, pelo menos mande Lázaro com um pouco d’água, estou com muita sede”.
E Deus disse: “Lázaro ficou com sede
muitas vezes, moribundo em sua porta, e você nunca lhe deu nada. Ele estava
morrendo de fome à sua porta e havia banquetes todos os dias, e muitos eram
convidados, mas ele sempre era escorraçado por seus servos, porque os convidados
estavam chegando, convidados poderosos, políticos, homens ricos, e um mendigo
ali ia parecer estranho. Seus servos o afugentavam e ele tinha fome, e as
pessoas que eram convidadas não estavam com fome. Você nunca olhou para Lázaro.
Agora é impossível”.
Tente perceber... Neste mundo, como
existem egos, todas as avaliações pertencem ao ego. No outro mundo, na outra
dimensão, a avaliação pertence aos destituídos de ego. Por isso a ênfase de
Buda no não eu, anatta. Buda disse: Não acredite nem mesmo em “Eu sou uma alma”
ou em “Eu sou o eu supremo”. Não diga nem isso, porque o “eu” é muito
traiçoeiro. Ele pode enganá-lo. Ele o enganou por muitas vidas. Basta dizer:
“Eu não sou eu” e permanecer neste estado de não ser; permaneça nesse nada –
torne-se vazio de si mesmo.
A pessoa tem que se desvencilhar do
eu. Depois que o eu é deixado para trás, nada fica faltando. Você começa a
transbordar e flores começam a se derramar sobre você.
Procure perceber o poder do vazio...
... Ficando vazio! Você não conhece o
poder do vazio. Você não sabe o poder que tem estar totalmente ausente de si.
Você só conhece a pobreza do ego.
Mas tente entender. Com o ego você já
se sentiu realmente poderoso? Não... Com o ego você sempre se sente impotente.
É por isso que o ego diz: “Torne o seu império um pouco maior para você se
sentir poderoso. Não, esta casa não vai ser suficiente, é preciso uma casa
maior; não, este saldo bancário não vai ser suficiente, é preciso um saldo
maior; não, esse tanto de fama não vai ser suficiente, um pouco mais”.
O ego sempre pede mais. Por quê? Se
ele é poderoso, por que continua pedindo mais? O próprio anseio por mais
revela, mostra, que o ego se sente impotente.
Nada vai ser suficiente para o ego.
Tudo só prova que você é impotente, não tem poder nenhum. Quanto mais poder
você adquire, mais impotente você se sente, em contraste. Quanto mais rico você
se torna, mais pobre se sente; Quanto mais saúde tiver, mais medo da morte; O
oposto está virando à esquina e, se você tiver um pouco de compreensão, o contrário
vai alcançá-lo. Quanto mais belo você for, mais vai sentir a sua feiura
interior.
O ego nunca se sente poderoso. Ele só
sonha com poder, pensa em poder, contempla o poder – mas esses são simplesmente
sonhos e nada mais. E sonhos existem apenas para esconder a impotência que está
dentro de você.
Mas ninguém percebe isso, porque ele
continua pedindo mais. Antes que você tome consciência, ele empurra você cada
vez mais em direção a algum lugar. O objetivo está sempre em algum lugar perto
do horizonte. Mas o horizonte é uma ilusão, todos os objetivos do ego são
apenas ilusões.
É isso o que está acontecendo com todo
mundo: seu poder permanece nos sonhos, você permanece impotente. A verdade é
exatamente o oposto: quando você não busca, a coisa vem; quando você não pede,
lhe é dado; quando você não almeja, acontece; quando você não busca o
horizonte, de repente, percebe que ele sempre foi seu – só que você nunca o
viveu.
Ele está lá dentro, e você procura
fora. Está dentro de você e você vive sem. E você fica procurando daqui e dali,
como um mendigo.
Esta
é uma das meditações mais profundas que Buda descobriu. Ele diz que tudo existe
numa relação, é uma relatividade; não é uma coisa substancial, absoluta.
Por exemplo: você é pobre, eu sou
rico. É uma coisa substancial ou somente algo relativo?Eu posso ser pobre em
relação a outra pessoa, e você pode ser rico em relação a outra pessoa. Um
homem rico, em comparação com um homem ainda mais rico é um homem pobre. Você é
pobre – a sua miséria é existencial ou apenas um relacionamento¿ Perceba, é um
fenômeno relativo. Se não há ninguém com que se relacionar, quem você vai ser¿?Um homem pobre ou um homem rico?
Pense... De repente toda a humanidade
desaparece e você é deixado sozinho sobre a Terra: O que você vai ser? Pobre ou
rico? Você vai ser simplesmente você mesmo – nem rico, nem pobre -, porque com
quem vai se comparar?
Você será bonito ou feio se estiver
sozinho? Você não será nenhum dos dois, vai ser simplesmente você. Com nada com
que se comparar, como você pode ser feio ou bonito? É assim com a beleza e a
feiura, a riqueza, a pobreza, e com todas as coisas. Você é sábio ou tolo? Louco ou sábio¿ Nenhum dos dois!
Então Buda disse que todas essas
coisas existem numa relação. Elas não são existenciais, são apenas conceitos. E
vivemos muito preocupados com essas coisas que não existem. Você vive muito
preocupado em saber se é feio. Você vive muito preocupado em saber se é bonito.
A preocupação é criada por algo que não existe.
Quem é você quando está sozinho? Ninguém. A condição de ser alguém vem da relação com outra pessoa.
Isso significa que ser simplesmente
ninguém é estar na natureza, ser simplesmente ninguém é estar na existência.
E você está sozinho. Lembre-se. A
sociedade só existe fora de você. Lá no fundo você está sozinho. Feche os olhos
e veja se é bonito ou feio; ambos os conceitos vão desaparecer, por dentro não
há beleza, não há feiura. Feche os olhos e contemple o que você é. Alguém respeitado
ou não respeitado? Moral ou imoral? Jovem ou velho? Negro ou branco? Um mestre
ou um escravo? Quem você é? Feche seus olhos e na solidão todo conceito vai a
abaixo. Você não pode ser coisa nenhuma. Então surge o vazio... Todos os
conceitos são anulados, apenas a sua existência permanece.
Esta
é uma das meditações mais profundas que Buda descobriu: Ser ninguém.
E isso não tem que ser forçado. Você
não deve pensar que não é ninguém, você tem que simplesmente perceber que todas
as coisas que você pensa que é são relativas.
E a verdade é absoluta, não é
relativa. A verdade não é relativa: ela não depende de nada, ela simplesmente
é.
Assim, encontre a verdade dentro de
você e não se preocupe com relacionamentos. Eles diferem, interpretações
diferem. E se as interpretações mudam, você muda.
Algo está na moda – se você usa, você
é moderno, admirado. Uma coisa saiu de moda – se você usa está ultrapassado,
não é respeitado.
Cinquenta anos antes, aquilo estava na
moda e você teria sido moderno. Cinquenta anos depois, pode voltar a ficar na
moda e, então, mais uma vez, você vai ser moderno.
Mas quem é você? - modas passageiras,
conceitos passageiros, relatividades?
Lembre-se disso: o que muda é
relativo, e o que permanece imutável é absoluto – e seu Ser é absoluto, não é
parte da relatividade.
Se você entender bem esse ponto de
vista, contemplá-lo, meditar sobre ele, de repente ficará iluminado por dentro
e verá que tudo é vazio...
Contemple esse sublime vazio...por Osho
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