Começamos inspirando e expirando pelas
narinas. Os meditadores inspiram e expiram com atenção. Soltamos o controle do
fluxo natural de energia e respiração, e aprendemos a simplesmente deixar as
coisas acontecerem. Prestamos atenção a cada inspiração e expiração,
acompanhando a respiração – o objeto de nossa atenção durante todo o processo.
Inspire pelas narinas, mantenha o foco
e a seguir solte o ar. Faça isso de novo e de novo. Essa é a respiração budista
básica. O que poderia ser mais simples ou mais natural? O que poderia ser mais
inspirador? Inspirar e expirar, dar e receber, vida e morte. Um grande ciclo
que flui incessantemente como as ondas. Preste atenção! Verá que vale a pena. A
atenção básica, acompanhada de uma consciência sem críticas e sem escolhas,
proporciona liberdade. Solte, deixe estar, seja livre.
Prestar atenção à respiração pode não
parecer produtivo imediatamente, mas dê-lhe uma chance. Alguns mestres
espirituais fizeram disso a sua prática básica de toda a vida. A atenção à
respiração é a prática meditativa fundamental, com poder para atingir e
fortalecer todos os níveis de consciência. Pode parecer simples, mas ela
trabalha em todos os níveis e certamente não é apenas para principiantes.
Apesar de não ser imediatamente
visível, estar totalmente presente no momento presente – que é o que a
meditação requer – significa renunciar ao passado, ao futuro e ao dualismo que
separa o eu e o outro. Essa é a essência do desapego.
Treinamos desapego soltando a
respiração repetidamente, experimentando a sensação de soltar e relaxar um
pouco mais a cada expiração. Cada expiração é uma pequena morte, uma pequena
renúncia, uma pequena carga que é liberada. Que alívio. Tente!
Como a planta cujas raízes crescem na
água, afundamos nossas raízes no sagrado agora, o eterno momento. Dessa forma
aprendemos a retirar nosso sustento espiritual do momento presente, o aqui e
agora. Esse é o único lugar para estar, o melhor assento da casa. Sente-se
nele, como um Buda – Um Ser Desperto.
Inspire profundamente pelas narinas.
Acompanhe a expiração. Siga o ar durante todo o percurso. Dissolva-se junto com
ele. Enquanto a respiração se dissolve no espaço exterior, nossos conceitos,
apegos e cargas são soltos no espaço infinito da consciência. Respiração após
respiração - libere os apegos. Pratique soltar um pouco mais a cada expiração.
Abandone um pouco mais as tensões físicas e mentais a cada deliciosa expiração.
Surfe nas ondas da respiração, deixe as ondas passarem através de você e
levarem tudo consigo.
Se surgirem sensações físicas ou
sentimentos, mantenha a atenção na respiração e deixe que as sensações se
dissolvam. Se surgirem pensamentos – e certamente surgirão -, simplesmente
expire e acompanhe a saída do ar até o fim, deixando que eles também se
dissolvam e passem. Não entre em cadeias de pensamento discursivo e de análise.
Não alimente os motores mentais. Permaneça na atenção básica. Comece de novo a
cada inspiração, do zero, com frescor. Cada momento é um novo momento, como a
aurora da criação. Esse momento é o único que existe. Cada respiração é nova.
Solte o que é velho. Abra espaço para começar de novo e será continuamente
renovado.
Inspirando e expirando – de forma
rítmica, como as ondas do mar. Soltando, acomodando, aprendendo a ser. Deixe
que as coisas se acomodem por si mesmas, em seu ritmo, em seu lugar. Onde quer
que elas estejam, deixe que assim seja, sem intervenções nem artifícios.
Aprenda a deixar as coisas chegarem e partirem, aprenda a apenas ser. Esse é um
passo enorme, uma lição incandescente.
Essa é a arte e a prática da
liberdade, a verdadeira prática do desapego.
A visão de uma vasta expansão aberta,
A verdadeira condição da mente,
Como o mar e o espaço:
Sem centro, sem arestas, sem metas.
(Mestre Dzogchen Shabkar Rinpoche)
por Lama Surya Das
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