Como podemos nos transformar, como podemos despertar o Buda interior?
Hoje em dia parece que não temos escolha senão integrar à nossa vida espiritual tudo o que experimentamos – sagrado e mundano são inseparáveis. Sua vida é seu caminho. Os desapontamentos e alegrias são parte do caminho. Tanto a lavanderia como a pessoa que recebe a roupa na lavanderia, são parte do caminho.
Não adianta esperar até ter mais tempo para meditar ou contemplar, porque talvez isso nunca aconteça. Cultivar a espiritualidade e a consciência tem que se tornar uma vocação de tempo integral, e para a maioria de nós isto precisa acontecer dentro do contexto de uma vida.
Para você, o buscador, o que importa é como cuida do momento presente. E não estou falando apenas do que você faz, mas também de como você faz. O momento presente é onde o pneu realmente encosta no asfalto. Sua força sobre o caminho, espiritualmente falando, depende de como você aplica o seu coração no momento presente.
O que, então, é mais verdadeiramente transformador¿ É apenas uma questão de mudar as roupas e o cabelo? Será que basta receber um mantra ou uma iniciação, aprender a meditar, fazer Yoga, rezar, respirar, cantar, fazer sexo tântrico, ir ao Himalaia ou a Jerusalém, a Meca ou a Macho Picchu? Acho que não...
Será que não é mais transformador rasgar os véus do engano e da ilusão, romper a casca da ignorância, para poder encontrar a si mesmo?
Através de um honesto auto exame e de uma introspecção meditativa que atravessem todas as partes de si mesmo, e que possam ser sustentadas por algum tempo, pode se desmontar a casa que o ego construiu, entrando na mansão do ser autêntico.
Kabir, um poeta indiano do século XV, disse uma vez: “Eu não quero tingir meu manto de açafrão – a cor da ordem religiosa -; eu quero é tingir meu coração com o amor divino”.
Não é necessário viajar para terras distantes, procurar experiências místicas exóticas, dominar mantras exotéricos e escrituras ou cultivar estados extraordinários de consciência, para experimentar uma transformação interna e uma mudança radical no coração.
Espiritualmente falando, tudo o que desejamos, aspiramos e necessitamos está sempre presente, acessível aqui e agora – para aqueles que têm olhos para ver. É o velho provérbio de novo: você não precisa ver coisa diferentes, apenas ver as coisas diferentemente.
Agora eu digo o que outros já disseram antes: que uma pessoa nunca viu nada até ter estado face a face consigo mesma. Só então cada momento contém o grande milagre, onde quer que estejamos. Verdade e amor estão nas palmas de nossas mãos. Porque quando nos iluminamos, todo o universo se ilumina. Anime-se!
Consciência é comum a todos os seres que tem sensações. A vida consciente, a autoconsciência contemplativa, é o meio de nos tornarmos tudo o que somos. A consciência é curadora. Conhecer a si mesmo e deixar fluir é a forma mais eficaz.
A espiritualidade é uma questão de descobrir a si mesmo, e não de se tornar algo diferente.
A verdadeira transformação é como a lendária transformação alquímica na qual o metal inferior de nossos seres limitados e finitos é transformado, como por mágica, no ouro espiritual de nossa transcendental natureza original.
A mesma questão persiste: como haver paz no mundo se nós, seus habitantes, não estamos em paz internamente¿ Enquanto houver uma separação – entre nós e eles, entre o eu e o outro, entre o eu separado e distinto do você -, o conflito permanece e a autotransformação não passa de um sonho. Se não amamos a nós mesmos, como podemos amar a terra¿
A transformação interior é um assunto espiritual, que inclui a tudo, em toda parte. A verdadeira autotransformação decididamente não é apenas para nós mesmos. É para todos os seres, pois estamos todos inseparavelmente interligados. O que acontece a um acontece a todos; arranque um único fio da teia da vida e toda a teia é prejudicada.
Na África, uma antiga tribo (Xhosa) tem um ditado que vale a pena ser lembrado: “Eu sou porque nós somos”.
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