Tradução do espanhol por Gustavo André Cunha
Introdução
A Gheranda Samhita é um manual de Hatha Yoga do século XVII que consta de 351 estrofes distribuídas em sete capítulos. É uma das três escrituras clássicas do Hatha Yoga e as técnicas que apresenta formam a base de muitas práticas do Yoga contemporâneo. O ensinamento apresenta-se em forma de diálogo entre o sábio Gheranda, de quem nada se conhece, e seu discípulo Chanda Kapali. Esta obra Vaishnavita toma como modelo a Hatha Yoga Pradipika e alguns versos têm correspondência com os do dito manual. Gheranda ensina uma disciplina de sete passos (sapta-sádhana) e descreve não menos de trinta e duas posturas (ásana) e vinte e cinco 'selos' (mudra). A parte mais original deste trabalho é o extenso tratamento das técnicas depurificação (shodhana). Também propõe uma interessante classificação do fenómeno do ênstase (samádhi). Existem numerosos comentários a este texto.
Primeiro Capítulo: Shatkarma
Introdução geral e descrição de vinte técnicas de higiene interior
Invocação
Inclino-me perante o Senhor Shiva que no princípio ensinou o Hatha Vidya, ciência que destaca como o primeiro degrau da escadaria que conduz às supremas alturas do Raja Yoga.
1:1. Numa ocasião Chanda Kapali foi à cabana de Gheranda e o saudou com reverência e devoção.
1:2. Oh, Mestre do Yoga! Oh tu, o melhor de todos os Yoguis! Oh Senhor! Quero aprender a disciplina de Hatha Yoga que leva ao conhecimento daverdade (tattva-jñána).
1:3. O Mestre Gheranda respondeu: 'Sem dúvida o pedes correctamente. Te ensinarei o que desejas saber. Escuta com atenção'.
1:4. Não existem amarras como as da ilusão (máyá). Não há força como aque provém da disciplina (yoga). Não há amigo mais elevado que oconhecimento (jñána). E não há inimigo maior que o sentimento deindividualidade (ahámkara).
1:5. Da mesma maneira que se aprende o alfabeto, com a prática, podem-sedominar todas as ciências, mediante o domínio do Hatha Yoga adquire-se nofinal o conhecimento da verdade que libera a alma da escravidão.
1:6. De acordo com os actos, bons ou maus, produzem-se os corpos de todosos seres vivos, e os corpos dão origem às acções (o karma que conduz ao renascimento). Desta maneira, o ciclo repete-se como o contínuo girar daroda de um moinho de água.
1:7. Da mesma forma que sobe e desce a roda de um moinho ao sacar águado poço movida pela nora (enchendo e esvaziando uma e outra vez os baldes), assim também a alma (jivátman) passa através da vida e da morte movida pelas suas acções (karma).
1:8. Porém, o corpo degenera-se neste mundo como um vaso de barro frescosubmergido em água. Fortalece-o com o fogo do treino (ghatastha-yoga)que vigoriza e purifica o corpo.
A via dos sete passos
1:9. Os sete passos deste treino psico-fisiológico são os seguintes:
1. Purificação, kriyá.
2. Fortalecimento, dridhata.
3. Estabilidade, sthirata.
4. Calma, dhirata.
5. Ligeireza, laguima.
6. Percepção correcta, pratyakshatva.
7. Libertação, nirliptata.
1:10-11. A purificação adquire-se com a prática regular dos seis kriyá. Aforça consegue-se com ásana; a estabilidade ou firmeza com mudra; calmacom pratyáhara; a ligeireza com pránáyáma; a percepção correcta comdhyána; a libertação com samádhi.
Os seis kriyá, ou exercícios de purificação
1:12. Os shat karma, ou seis exercícios de purificação, são:
1. Dhauti,
2. Vasti,
3. Neti,
4. Lauliki (Nauli),
5. Trataka e
6. Kapalabhati.
Primeiro kriyá: dhauti
1:13. Os dhauti eliminam as impurezas do corpo e são de quatro tipos:Antar-dhauti, ou limpeza interna; Danta-dhauti, ou limpeza dental; Hrid-dhauti, ou limpeza do esófago; Múla-soddhana, ou limpeza do recto.
1:14. Antar-dhauti, subdivide-se por sua vez em quatro partes: Vatasara, oulimpeza com ar; Varisara, ou limpeza com água; Vahnisara (agnisara), ou limpeza com fogo; Bahishkrita, ou limpeza com extracção.
Vatasara-dhauti
1:15. Imitar com a boca a forma do bico de um corvo (kákí-mudra) einspirar lentamente. Encher o estômago de ar e movê-lo para dentro. Depois,forçá-lo pouco a pouco até expulsá-lo através do recto.
1:16. Vatasara é um procedimento muito secreto (mantido pelos Siddhas)que purifica o corpo, cura todas as enfermidades e aumenta o fogo gástrico.
Varisara-dhauti
1:17. Encher a boca completamente com água, até à garganta. Bebê-la lentamente. No estômago, movimentá-la para os lados. Depois, empurrá-lapouco a pouco para expulsá-la através do recto.
1:18. Este procedimento deve ser mantido em segredo; purifica o corpo e,praticado com atenção, obtém-se um corpo luminoso ou resplandecente.
1:19. Varisara é o maior dos dhauti. Quem o executar com facilidadepurificará o seu corpo impuro e o transformará em um corpo divino(divya-deha).
Vahnisara-dhauti (agnisara-dhauti)
1:20. Pressionar cem vezes o abdómen contra a coluna vertebral. Isto é agnisara ou limpeza com fogo. Conduz ao êxito na prática de yoga, curatodas as enfermidades do estômago e incrementa o fogo interior.
1:21. Esta forma de dhauti, difícil de conseguir até para os deuses, devemanter-se em segredo, pois proporciona um corpo divino (divya-deha).
Bahishkrita-dhauti
1:22. Fazer kákí-mudra (boca em forma de bico de corvo) e inspirar lentamente. Encher o estômago de ar e mantê-lo durante hora e meia.Depois, empurrar forçando o ar até aos intestinos. Este dhauti deve manter-se em grande segredo e não revelá-lo a ninguém.
1:23. Em seguida, de pé e submergido em água até ao umbigo, extrair ointestino grosso (Shakti-nádi). Lavá-lo à mão até que fique completamentelimpo. Finalmente, introduzí-lo de novo no abdómen.
1:24. Este procedimento, difícil de realizar até para os deuses, deve manter-se em secreto, pois proporciona um corpo divino (devadeha).
1:25. Quem não conseguir reter o alento ou o ar no estômago durante hora emeia, não poderá efectuar este grande dhauti ou purificação, conhecidocomo bahishkrita.
Danta-dhauti
1:26. Inclui as seguintes práticas: Limpeza dos dentes (danta-múla-dhauti),limpeza da língua (jihvá-dhauti), limpeza dos ouvidos (karna-dhauti) elimpeza dos seios frontais (kapála-randhra-dhauti).
Danta-múla-dhauti
1:27. Esfregar os dentes com acácia em pó ou com terra pura até quedesapareçam todas as impurezas.
1:28. Esta limpeza dental é um grande dhauti e para os yoguis é umprocedimento muito importante na prática de yoga. Deve realizar-sediariamente, cada manhã, para manter os dentes sãos. Os yogis aprovam-nopara a purificação.
Jihvá-dhauti (jihvá-sodhana)
1:29. Dir-te-ei agora o método para limpar a língua, cujo alargamento anulaa velhice, a morte e a doença.
1:30. Juntar os dedos médio, indicador e anelar e introduzi-los na garganta.Escovar bem a raiz da língua e voltar a limpar, extraindo a mucosidade.
1:31. Em seguida, lavar a língua e massajá-la com manteiga e leite váriasvezes. Apertá-la e puxá-la repetidamente, como se estivesse a ordenhá-la.Finalmente, segurando a ponta da língua com um instrumento de aço, raspe-a com suavidade.
1:32. Esta prática deve efectuar-se com esmero todos os dias ao nascer e pôrdo sol. Desta forma consegue-se o alargamento da língua.
Karna-dhauti
1:33. Limpar os orifícios dos ouvidos com os dedos indicador e anelar. Aprática diária regular conduz à percepção de sons subtis (nada).
Kapála-randhra-dhauti
1:34. Massajar a depressão da frente junto à raiz do nariz com o polegar damão direita. Com esta prática curam-se as enfermidades ocasionadas pordesordens dos humores (dosha).
1:35. As nádi purificam-se e obtêm-se a clarividência, a visão divina (divya-drishti). Deve praticar-se diariamente ao despertar, depois de cada refeição eao anoitecer.
Hrid-dhauti
1:36. A limpeza do coração, é de três tipos: Danda-dhauti (limpeza comuma haste), Vamana-dhauti (limpeza com água), e Váso-dhauti (limpezacom uma gaze).
Danda-dhauti
1:37. Usar um ramo de plátano, cúrcuma, plantago mayor ou cana-de-açúcare introduzi-lo lentamente no esófago, retirando-o depois com cuidado.
1:38. Com esta prática elimina-se todo o muco (kapha), bílis (pitta) e outrasimpurezas da boca e do peito. Mediante danda-dhauti curam-se todas asenfermidades do coração.
Vamana-dhauti
1:39. Depois de comer, deve-se beber água até chegar ao estômago. Emseguida, deve-se voltar o olhar para cima durante algum tempo. Finalmente,procede-se ao vómito. Executado diariamente, cura as desordens ocasionaspor muco (kapha) e bílis (pitta).
Váso-dhauti
1:40. Engolir lentamente uma gaze com quatro dedos de largura e depoisextrai-la. Isto é váso-dhauti (vastradhauti).
1:41. Com esta técnica elimina-se a febre e curam-se enfermidadesabdominais (gulma), dilatação do baço, lepra, enfermidades da pele, assimcomo as desordens produzidas por muco (kapha) e bílis (pitta). Assim, a cada dia, o praticante incrementa a sua saúde, força e ânimo.
Múla-soddhana
1:42. Apana não flui correctamente a não ser que se limpe o recto de formaadequada. Portanto, deve efectuar-se cuidadosamente a purificação do intestino grosso.
1:43. O recto limpa-se repetidas vezes com água, utilizando o dedo médioou uma haste da raiz de cúrcuma (haridra).1:44. Isto elimina a prisão de ventre, a indigestão e a dispepsia, aumenta abeleza e o vigor corporal e vivifica a esfera de fogo (suco gástrico).
Segundo kriyá: vasti (basti)
1:45. Os vasti são de dois tipos: Jala-vasti; (com água) realiza-se metido emágua; Shushka-vasti. (enema seco) realiza-se em terra.
Jala-vasti
1:46. Denomina-se jala-vasti a seguinte prática: submergido em água até àaltura do umbigo, adopta-se a postura da cadeira (utkatásana) e contrai-serelaxa-se o esfíncter anal.
1:47. Com este procedimento curam-se desordens urinários (prameha),problemas digestivos (udavarta) e problemas relacionados com os distintosprána (krúra-váyu). O corpo liberta-se de toda a enfermidade e torna-se belocomo um deus.
Shushka-vasti (sthala-vasti)
1:48. Adoptar a postura da pinça (paschimottanásana). Mover lentamenteaté abaixo os intestinos. Contrair e relaxar o esfíncter anal mediante ashviní-mudra.
1:49. Com esta prática previne-se a prisão de ventre, aumenta-se o fogogástrico e cura-se a flatulência.
Terceiro kriyá: neti
1:50. Introduzir um fio delgado, de comprimento médio (22 a 28 cm.), porum orifício nasal. Empurrá-lo até que passe para dentro da boca. Agarrá-locom a mão e tirá-lo pela boca.
1:51. Com a prática de neti-kriyá facilita-se khechari-mudra, curam-se asdesordens causadas pelo muco (kapha) e aumenta a visão interior.
Quarto kriyá: lauliki (nauli)
1:52. Mover energicamente os intestinos e o estômago de um lado para ooutro. Isto é lauliki-yoga. Elimina todas as enfermidades e aumenta o fogogástrico.
Quinto kriyá: tratakam
1:53. Olhar fixamente, sem pestanejar, qualquer objecto pequeno até quecomecem a fluir lágrimas. Isto chama-se tratakam, segundo os sábios.
1:54. Ao praticar este yoga, obtêm-se a shambavi-mudra, eliminam-se todasas enfermidades oculares e surge a clarividência.
Sexto kriyá: kapalabhati
1:55. Kapalabhati elimina as desordens produzidas pelo muco (kapha) e éde três tipos: Váma-krama;
Vyut-krama; Shít-krama.
Váma-krama
1:56. Inspira-se suavemente pelo orifício esquerdo do nariz e expira-se pelodireito. Em seguida, inspira-se pelo direito e expira-se pelo esquerdo.
1:57. Esta prática deve efectuar-se sem esforço. Com ela eliminam-se asdesordens produzidas pelo muco (kapha).
Vyut-krama
1:58. Absorver água por ambas as fossas nasais e expeli-la lentamente pelaboca. Com vyut-krama eliminam-se as desordens produzidas pelo muco (kapha).
Shít-krama
1:59. Absorver água pela boca e expeli-la lentamente pelas duas fossasnasais. Com esta prática, o yogi torna-se belo como o deus Káma.
1:60. A velhice não o atinge e a degeneração não o alcança. O corpo torna-sesão e flexível. As desordens devido a muco são eliminadas.
Segundo Capítulo: Asanas
Descrição das 32 posturas
2:1. Existem oito milhões e quatrocentos mil ásana descritas por Shiva. Existem tantos ásana como criaturas vivas no universo.Descrição das 32 posturas
2:2. De todos eles, oitenta quatro são os melhores e entre estes, trinta e dois consideram-se úteis para os que habitam este mundo.
2:3-6. Os trinta e dois ásana que proporcionam a perfeição neste mundo material são os seguintes:
1. Siddhásana (postura perfeita)
2. Padmásana (postura de lótus)
3. Bhadrásana (postura de bem-estar)
4. Muktásana (postura de liberação)
5. Vajrásana (postura do raio)
6. Svastikásana (postura afortunada)
7. Simhásana (postura do leão)
8. Gomukhásana (postura da cabeça de vaca)
9. Virásana (postura heróica)
10. Dhanurásana (postura do arco)
11. Mritásana (postura do cadáver)
12. Guptásana (postura oculta)
13. Matsyásana (postura do peixe)
14. Matsyendrásana (postura de Matsyendra)
15. Paschimottanásana (postura da pinça)
16. Gorakshásana (postura de Goraksha)
17. Utkatásana (postura elevada)
18. Sankatásana (postura perigosa)
19. Mayurásana (postura do pavão)
20. Kukkutásana (postura do galo)
21. Kurmásana (postura da tartaruga)
22. Uttanakurmásana (postura da tartaruga em extensão)
23. Mandukásana (postura da rã)
24. Uttanamandukásana (postura da rã em extensão)
25. Vrikshásana (postura da árvore)
26. Garudásana (postura da águia)
27. Vrishásana (postura do touro)
28. Salabhásana (postura do gafanhoto)
29. Makarásana (postura do crocodilo)
30. Ushtrásana (postura do camelo)
31. Bhujangásana (postura da cobra)
32. Yogásana (postura de yoga)
Siddhásana
2:7. O praticante que tenha dominado as suas paixões deve: colocar ocalcanhar (esquerdo) em contacto com o ânus e o outro sobre os genitais.Manter o queixo junto do peito. Permanecer imóvel e com as costas erectas.Dirigir o olhar para o intercílio. Esta postura conduz à libertação.
Padmásana
2:8. Colocar o pé direito sobre a coxa esquerda. E, de forma análoga, o péesquerdo sobre a coxa direita. Cruzar os braços atrás das costas. Segurarcom as mãos os dedos grandes dos pés. Colocar o queixo junto do peito.Fixar o olhar na ponta do nariz. Esta postura cura todas as enfermidades.
Bhadrásana
2:9-10. Colocar os calcanhares cruzados debaixo dos órgãos sexuais. Cruzaros braços atrás das costas. Segurar com as mãos os dedos grandes dos pés.Adoptar jalandarabhanda. Fixar o olhar na ponta do nariz. Esta postura curatodas as enfermidades.
Muktásana
2:11. Colocar o calcanhar esquerdo na base dos genitais. Colocar o direitoem cima dos genitais. Manter costas, pescoço e cabeça alinhados. Esta postura proporciona siddhi.
Vajrásana
2:12. Juntar as coxas, apertadas como um diamante. Colocar as pernas debaixo do ânus (sentar-se em cima dos pés, com os calcanhares separados). Esta postura proporciona siddhi.
Svastikásana
2:13. Colocar cada pé entre os gémeos e a coxa (da perna contrária). Manter o corpo erguido nesta cómoda posição.
Simhásana
2:14-15. Colocar os calcanhares cruzados e voltados para cima por debaixo dos órgãos sexuais. Colocar os joelhos no solo e as mãos apoiadas nosjoelhos. Abrir a boca e efectuar jalandarabhanda. Fixar o olhar na ponta donariz. Esta postura destrói todas as enfermedades.
Gomukhásana
2:16. Colocar os pés no solo com os calcanhares cruzados por debaixo dasnádegas. O corpo deve manter-se firme, com a cara levantada e a bocasaliente. Permanecer sentado tranquilamente. Esta postura faz lembrar ofocinho de uma vaca.
Virásana
2:17. Colocar um pé sobre a coxa oposta. Girar o outro pé para trás.
Dhanurásana
2:18. Estender as pernas no solo, rectas como uma vara. Segurar os dois péscom as mãos, de tal forma que se dobre o corpo como um arco.
Mritásana
2:19. Permanecer deitado de costas no solo, completamente estendido,denomina-se postura do cadáver. Esta postura elimina a fadiga física eacalma a agitação mental.
Guptásana
2:20. Ocultar os pés por debaixo das coxas e dos joelhos. Colocar asnádegas sobre os pés.
Matsyásana
2:21. Adoptar a postura de lótus (sem cruzar os braços por detrás dascostas). Permanecer deitado sobre as costas. Segurar a cabeça entre oscotovelos.
Matsyendrásana
2:22-23. Manter relaxada a região abdominal e as costas. Dobrar a pernaesquerda e colocá-la sobre a coxa direita; depois colocar nesta o cotovelodireito e a cara na palma da mão direita. Fixar o olhar no intercílio. Esta postura denomina-se matsyendra.
Paschimottanásana
2:24. Estender as pernas no solo, rectas como uma vara, sem que oscalcanhares se toquem. Colocar a testa sobre os joelhos. Segurar os dedosdos pés com as mãos.
Gorakshásana
2:25-26. Colocar os pés voltados para cima, entre os joelhos e as coxas.Colocar as mãos abertas ocultando cuidadosamente os calcanhares. Contraira garganta e fixar o olhar na ponta do nariz. Esta postura proporciona otriunfo aos yoguis.
Utkatásana
2:27. Permanecer nas pontas dos dedos dos pés, com os calcanhareslevantados do solo. Colocar as nádegas sobre os calcanhares.
Sankatásana
2:28. Apoiar pé e perna esquerdos no solo. Rodar a perna esquerda com adireita. Colocar as mãos sobre os joelhos.
Mayurásana
2:29-30. Colocar as palmas das mãos no solo. Apoiar o abdómen sobre oscotovelos. Levantar-se sobre as mãos com as pernas no ar, cruzadas emlótus. Esta postura estimula a digestão e elimina as enfermidades abdominais.
Kukkutásana
2:31. Sentar-se no solo com as pernas cruzadas em lótus. Apoiar as mãos nosolo introduzindo os braços entre as coxas e os gémeos. Levantar-se emequilíbrio sobre as mãos, suportando o peso do corpo com os cotovelos.
Kurmásana
2:32. Cruzar os calcanhares debaixo dos órgãos sexuais. Manter alinhadas ascostas, cabeça e pescoço.
Uttanakurmásana
2:33. Adoptar kukkutásana (postura do galo). Segurar o pescoço com as mãos. Erguer-se, alongar-se como uma tartaruga.
Mandkukásana
2:34. Colocar os pés para trás com os dedos dos pés tocando-se. Joelhospara a frente (bem afastados).
Uttanamandukásana
2:35. Colocar-se em mandukásana (postura da rã). Sustentar a cabeça comos cotovelos. Alongar o corpo como uma rã.
Vrikshásana
2:36. Manter-se de pé sobre a perna esquerda. Colocar o pé direito sobre acoxa esquerda. Permanecer erecto como uma árvore plantada no solo.
Garudásana
2:37. Pressionar as coxas contra o solo. Manter o corpo firme com as mãos sobre os joelhos.
Vrishásana
2:38. Colocar o ânus sobre o calcanhar direito. Cruzar a perna esquerda sobre a direita. Colocar o pé esquerdo ao lado da perna direita.
Salabhásana
2:39. Colocar a boca [queixo] junto ao solo. Colocar as palmas das mãos no solo, à altura do peito. Levantar as pernas à altura de um cotovelo.
Makarásana
2:40. Colocar a boca [queixo] e o peito em contacto com o solo. Estender eseparar (amplamente) as pernas. Segurar a cabeça com os braços. Esta postura aumenta o calor corporal.
Ushtrásana
2:41. Colocar a boca [queixo] junto ao solo. Dobrar as pernas para trás. Agarrar os pés com as mãos. Contrair fortemente os músculos abdominais e a boca.
Bhujangásana
2:42-43. Colocar a metade do corpo, desde o umbigo até aos pés, no solo. Apoiar as palmas das mãos no solo. Levantar a cabeça e a parte superior docorpo, como uma serpente. Esta postura aumenta o calor corporal e elimina todas as enfermidades. Com a sua prática desperta-se a kundalini.
Yogásana
2:44-45. Girar os pés para cima e colocá-los (cruzados) sobre os joelhos. Colocar as mãos no solo, com as palmas voltadas para cima. Fixar o olhar na ponta do nariz.
Terceiro Capítulo: Mudras
Mudra: descrição de mudras e bandhas
3:1-3. Gheranda disse: existem vinte e cinco mudra. A sua práticaproporciona o triunfo ao yogi. São os seguintes:
1. Mahamudra (grande selo)
2. Nabhomudra (selo etérico)
3. Uddiyanabandha (contracção flutuante)
4. Jalandarabandha (contracção da garganta)
5. Múlabandha (contracção raiz)
6. Mahabandha (grande contracção)
7. Mahavedha (grande penetrador)
8. Khecharimudra (selo da língua)
9. Viparitakaranimudra (selo da acção inversa)
10. Yonimudra (selo da vagina)
11. Vajrolimudra (selo vajroli)
12. Shakticalanamudra (selo agitador da energia)
13. Tadagimudra (selo do tanque)
14. Mandukimudra (selo da rã)
15. Shambavimudra (selo de Shiva)
Panchadháraná (cinco dháraná ou concentrações):
16. Párthivídháraná (terra ? muladhara chakra)
17. Ámbhasídháraná (água ? svádhistána chakra)
18. Ágneyídháraná (fogo ? manipura chakra)
19. Váyavídháraná (ar ? anahata chakra)
20. Ákáshídháraná (éter/espaço ? ajña chakra)
21. Ashvinimudra (selo da égua/cavalo)
22. Pashinimudra (selo do pássaro)
23. Kakimudra (selo do corvo)
24. Matanginimudra (selo do elefante)
25. Bhujanginimudra (selo da serpente)
3:4-5. Gheranda disse: Maheshvara (Shiva), dirigindo-se à sua esposa (Parvati), recitou as vantagens dos mudra da seguinte forma: Oh Devi, todos estes mudras cujo conhecimento conduzem a quem os pratica à obtenção desiddhi, devem manter-se em grande segredo. Não serão para ensinar alegremente a qualquer um. Este conhecimento que não é fácil de obter nem sequer pelos próprios deuses, proporciona felicidade ao yogi!
Mahamudra
3:6-7. Pressionar com firmeza o calcanhar esquerdo contra o ânus. Estendera perna direita e segurar o dedo gordo do pé com as mãos. Contrair agarganta. Fixar o olhar no intercílio.3:8. Esta técnica cura todas as enfermidades (abdominais) e, em especial,prisão de ventre, inflamação do baço, indigestão e febre.
Nabhomudra
3:9. Em qualquer actividade e em qualquer sítio, o yogui pode praticar nabhomudra. Leva-se a língua para cima e suspende-se a respiração com os pulmões cheios.
Uddiyanabandha
3:10. Contrair o abdómen tanto para cima como para debaixo do umbigo.Empurrá-lo para trás, de maneira que os órgãos abdominais sejamcomprimidos contra a coluna vertebral. Quem praticar este selocontinuamente vencerá a morte.Graças a esta técnica, o 'grande pássaro' (hamsa), a força vital (prána), éforçada insistentemente a 'voar para cima' (uddína), ou seja, a ascenderpelo canal central (sushumna-nádi).
3:11.De todos os bandha, este é o melhor. Com a sua prática completafacilita-se a libertação.
Jalandarabandha
3:12. Contrair a garganta e colocar o queixo contra o peito.Jalandarabandha fecha os dezasseis adhara. Praticado junto com mahamudra, destrói a morte.
3:13. Os seus efeitos foram amplamente comprovados e proporcionaexcelentes resultados. Quem o praticar durante seis meses certamentealcançará o seu objectivo.
Múlabandha
3:14. Pressionar o períneo com o calcanhar do pé esquerdo. Contrair o esfíncter anal.
3:15. Colocar o calcanhar direito sobre os genitais. Pressionar contra apúbis. Contrair a região abdominal até a coluna vertebral. Este múlabandhaelimina a decadência.
3:16. Quem desejar cruzar o oceano da existência deve praticar este mudraem segredo.
3:17. Com múlabandha controla-se váyu. Deve praticar-se cuidadosa ediligentemente.
Mahabandha
3:18. Pressionar o orifício anal com o calcanhar esquerdo. Pressionarsuavemente este calcanhar com o calcanhar direito. Lentamente e comcuidado contrair os músculos do recto
3:19. Ao mesmo tempo, contrair os músculos do períneo. Reter a respiração(com os pulmões cheios) em jalandarabhanda. Estas três contracções juntas(ânus, períneo e garganta) constituem mahabandha.
3:20. Mahabandha é o maior dos bandha. Destrói a decadência e a morte.Graças à sua prática, realizam-se todos os desejos.
Mahavedha
3:21-22. Da mesma forma que a beleza, juventude e encanto de uma mulhersão inúteis sem um homem (que a admire), assim são múlabandha emahabandha sem mahavedha. Sentar-se em mahabandha e reter o alentocom uddana kumbhaka (retenção do alento com os pulmões vazios juntocom uddiyanabandha). Isto é mahavedha, que da êxito aos yoguis.
3:23-24. Quem praticar diariamente múlabandha e mahabandha commahavedha é o melhor dos yogis. Para ele não existe o medo da morte. A decadência não o alcança. Os yogis devem mantê-lo em segredo.
Khecharimudra
3:25. Cortar o tendão inferior da língua e mantê-la continuamente emmovimento. Massajá-la com manteiga fresca. Puxá-la com um instrumentode aço (para alongá-la).
3:26. Com a prática contínua consegue-se alongar a língua. Obtêm-sekhecharimudra quando a ponta da língua pode tocar o intercílio.
3:27. Em seguida, quando se tiver alargado suficientemente a língua: levar alíngua para cima e para trás para tocar o palato. Com a prática, alcança-se ascavidades nasais que comunicam com o interior da boca. Fechar estesorifícios com a língua (retendo a respiração). Fixar o olhar no intercílio.
3:28. Com esta prática desaparecem debilidade, fome, sede e preguiça. Nãosurgem enfermidades, decadência ou morte. O corpo torna-se divino.
3:29. O corpo não pode ser queimado pelo fogo, secado pelo ar ou molhadopela água. O corpo não pode ser mordido pelas serpentes.
3:30. O corpo torna-se belo. O samádhi alcança-se facilmente. Ao tocar osorifícios nasais internos com a língua, experimentam-se diversos sabores.
3:31-32. Experimentam-se novas sensações à medida que fluiabundantemente néctar. Apreciam-se sucessivamente os seguintes sabores:salgados, alcalinos, amargos, adstringentes, manteiga, ghee, leite, coalhada,soro, mel e sumo de palmeira. Finalmente, manifesta-se o sabor do néctar.
Viparitakaranimudra
3:33-35. O sol (plexo solar) localiza-se abaixo do umbigo. A lua localiza-sena base do paladar. O processo mediante o qual o sol ascende e a luadescende, chama-se vipa. É um mudra secreto em todos os tantra. Coloca-sea cabeça no solo com as mãos estendidas. Levantam-se as pernas e mantêm-se a postura com firmeza.3:36. Com a sua prática constante desaparecem a morte e a decadência. Oyogui consegue siddhi e não é destruído nem sequer em pralaya (dissoluçãodo universo no final de um período cósmico)
Yonimudra
3:37-42. Sentar-se em siddhásana. Tapar os ouvidos com os polegares, osolhos com os indicadores, as fossas nasais com os dedos médios, o lábiosuperior com os anelares e o inferior com os mindinhos. Inalar prána-váyu mediante kakimudra e uni-lo a apana-váyu. Visualizar os seis chakra emordem (ascendente) até que desperte kundalini. Repetir os mantra hum ehamsa. Levar a Shakti junto a jiva, no sahasrara chakra. Cheio de Shakti,unida com o grande Shiva, meditar no supremo gozo. Contemplar a união deShiva e Shakti neste mundo. Completamente extasiado, o yogui compreendeque ele é Brahma. Esta prática é um grande segredo, difícil de realizarinclusive para os deva. Quem aperfeiçoa esta prática entra realmente emsamádhi.
3:43-44. Com esta prática, o yogui não é afectado pelas acções (maisreprováveis), como matar um Brahman ou um feto, beber álcool oucontaminar o leito do guru. Todos os pecados, tanto os mais graves como osmais leves, são completamente destruídos graças a esta prática. Portanto,quem aspirar à libertação deverá efectuar esta prática.
Vajrolimudra
3:45. Apoiar as duas mãos no solo. Levantar as duas pernas rectas. A cabeçanão deve estar em contacto com o solo. Esta técnica desperta kundalini e dálongevidade.3:46-48. Esta prática é o cume das práticas de yoga. Facilita a iluminação eaperfeiçoa o yogui. Com ela consegue-se bindu-siddhi (controle sobre osémen) e, então, pode conseguir qualquer coisa. Mesmo vivendo uma vidasubmergido de prazeres, o yogui alcança a perfeição com esta prática.
Shakticalana
3:49. A grande deusa kundalini, a energia do e, a átma-Shakti, dorme nomuladhara chakra. Tem a forma de uma serpente enroscada com três voltase meia.3:50. Enquanto permaneça adormecida no corpo, o jiva é apenas um animal,e não se produz o autêntico conhecimento mesmo que se pratique durantedez milhões de anos.3:51. Da mesma forma que uma porta se abre com uma chave, a porta deBrahma abre-se despertando kundalini mediante o hatha yoga.3:52. Colocar uma manta pelas costas (à altura dos rins) e sentar-se numlugar oculto, não despido, numa habitação exterior, para praticarShakticalana.
3:53. A peça deverá medir cerca de 20 cm por quatro dedos de largura.Deverá ser suave, branca e de um tecido de qualidade. Deverá ser firmemente mantida no lugar através do katisutra (uma cinta que se ata naanca).
3:54-55. Cobrir o corpo com cinzas. Sentar-se em siddhásana. Inalar prána-váyu por ambas as fossas nasais e uni-lo firmemente com apana. Contrair orecto com cuidado mediante ashvinimudra até que o váyu penetre nasushumna e manifeste claramente a sua presença.3:56. Retendo a respiração mediante kumbhaka, a serpente kundalini sente-se afogada, desperta e ascende até brahmarandhra.
3:57. Yonimudra não se completa nem se aperfeiçoa sem Shakticalana.Primeiro pratica-se Shakticalana e depois aprende-se yonimudra.
3:58. Oh, Chanda Kapali! Assim é Shakticalana. Pratica diariamente e com empenho.
3:59. Este mudra deve manter-se em segredo, pois elimina a decadência e amorte. Portanto, o yogi que deseje a perfeição deverá praticá-lo.
3:60. O yogi que o pratique diariamente chegará a ser um siddha, alcançaráo vigraha-siddhi e curará todas as suas enfermidades.
Tádágí-mudra
3:61. Adoptar a postura de paschimottanásana. Esvaziar o abdómen, comose fosse um tanque. Este é o tádágí-mudra (mudra do tanque) que detém oenvelhecimento e a morte.
Manduki-mudra
3:62. Manter a boca fechada. Girar a ponta da língua para acima e para trás,contra o palato (como o salto da rã). Saborear lentamente o néctar sagrado(amrita).
3:63. O corpo não adoece nem envelhece. Mantém-se a juventude e o cabelonunca se torna grisalho.
Shambavi
3:64. Deve-se fixar o olhar no intercílio e concentrar-se em si mesmo(essência).
3:65. Os Vedas, os shastras e os puránas são como mulheres públicas. Mas,esta prática deve manter-se guardada como uma dama respeitável.
3:66. Sem dúvida, quem dominar esta técnica será similar a Adinátha(Shiva), Náráyána (Vishnu) e Brahma.
3:67. Maheshvara disse: 'realmente, quem conhecer shambavi será Brahman'.
Panchadháraná
3:68. Uma vez explicado shambavi, escuta agora os cinco dháraná. Com eles pode-se conseguir qualquer coisa neste mundo.
3:69. Com o seu domínio pode-se visitar o céu (svarga loka) à vontade,pode-se viajar à velocidade do pensamento e pode-se caminhar no ar.
Párthivídháraná
3:70. Este tattva é de cor amarela esverdeada, o seu bíja-mantra é lam, a sua forma é quadrada e Brahma é a sua divindade. Concentrar a mente e prána-váyu no elemento terra mediante kumbhaka, durante um período de cincoghatikas (duas horas e meia). Também se denomina adhodháraná. Com asua prática conquista-se este elemento e nenhum dos seus constituintes lhepoderá causar dano. Proporciona firmeza.
3:71. Quem praticar esta concentração conquistará a morte e converter-se-ánum siddha.
Ámbhasídháraná
3:72. Este tattva é de cor branca, como a flor kunda, como uma conchamarinha ou como a lua; o seu bíja-mantra é vam, a sua forma é circular,como a da lua, e Vishnu é a sua divindade. Concentrar a mente e prána-váyuno elemento água mediante kumbhaka, durante um período de cincoghatikas (duas horas e meia). Esta técnica de concentração elimina todo ador. Com ela, a água não pode causar dano algum.
3:73-74. A morte por afogamento não alcança quem praticar esta técnica,nem nas águas mais profundas. Deve manter-se em grande segredo, pois asua revelação anula os seus efeitos.
Ágneyídháraná
3:75. Este tattva é de cor vermelha, como o insecto indra-gop e fica situadona região abdominal; o seu bíja-mantra é ram, a sua forma é triangular, e Rudra (Shiva) é a sua divindade. Brilha como um sol e confere siddhi.Concentrar a mente e prána-váyu no elemento fogo mediante kumbhaka,durante um período de cinco ghatikas (duas horas e meia). Esta técnica deconcentração elimina o temor duma morte dolorosa. Com ela, o fogo nãopode causar dano algum.3:76. A morte pelo fogo não alcança o yogui que pratica esta técnica.
Váyavídháraná
3:77. Este tattva é de cor negra, como khol para os olhos; o seu bíjamantra é yam, e Íshvara é a sua divindade. Este tattva está cheio desattva. Concentrar a mente e prána-váyu no elemento ar mediante kumbhaka, durante um período de cinco ghatikas (duas horas e meia). Com esta técnica, o praticante pode caminhar no ar.
3:78-79. O domínio desta técnica elimina a decadência e a morte e permitedeslocar-se pelo ar. O ar não mata a quem o domina. Não deve ser reveladoa malfeitores ou a incrédulos, pois anularar-se-iam os seus efeitos.
Ákáshídháraná
3:80. Este tattva é da cor da água pura do mar; o seu bíja-mantra é ham, asua forma é triangular, e SadáShiva (Shiva) é a sua divindade. Brilha como um sol e confere siddhi. Concentrar a mente e prána-váyu no elemento éter mediante kumbhaka, durante um período de cinco ghatikas (duas horas e meia). Esta técnica de concentração abre a porta da libertação.
3:81. Esta técnica é conhecida apenas pelo yogui autêntico. A morte não oalcança nem perece no pralaya.
Ashvini
3:82. Contrair e dilatar repetidas vezes o esfíncter anal. Esta prática desperta kundalini.
3:83. Esta técnica elimina as enfermidades do reto, fortalece o corpo e evita a morte prematura.
Pashini
3:84. Colocar as duas pernas nas costas, por detrás do pescoço e mantê-lasfirmes. Esta prática desperta kundalini.
3:85. Esta técnica fortalece e aumenta a energia do corpo. Deve praticar-secom cuidado.
Kákí-mudra
3:86. Contrair os lábios como o bico de um corvo e inspirar lentamente. Esteé o mudra do corvo (kákí), que elimina todas as enfermidades.
3:87. Kákí-mudra é um grande mudra mantido em segredo em todos ostantra. Com esta prática evitam-se todas as enfermidades, como um corvo.
Matangini
3:88-89. De pé e submergido em água até ao pescoço, absorver água atravésdas fossas nasais e expeli-la pela boca; em seguida, aspirar água pela boca eexpeli-la pela nariz (como um elefante). Repetindo esta técnica, uma e outravez, anula-se a decadência e a morte.3:90-91. Esta técnica deve executar-se num lugar solitário. A sua práticaconfere a força de um elefante e proporciona grande prazer ao yogui. Deve ser feita com grande cuidado.
Bhujangini
3:92. Estender um pouco o pescoço para a frente e tragar ar através do esófago. Este mudra da serpente anula a decadência e a morte.
3:93. Esta técnica elimina rapidamente todas as enfermidades intestinais, especialmente a indigestão e a dispepsia.
Benefícios dos mudras
3:94. Oh, Chanda Kapali! Assim te mostrei os mudras, perseguidos por todos os siddhas e que anulam a decadência e a morte.
3:95. Não devem ser ensinados indiscriminadamente nem devem ser revelados a malfeitores ou a incrédulos. Devem ser cuidadosamente conservados em segredo. São difíceis de executar mesmo para os deuses.
3:96. Estas técnicas que proporcionam felicidade e libertação devem ensinar-se a pessoas inocentes, calmas e de mente tranquila, devotas ao seu guru e que provenham de boas famílias.
3:97. A sua prática diária elimina todas as enfermidades e aumenta o fogogástrico.
3:98. O praticante não é alcançado pela morte nem pela decadência; a água ,o ar e o fogo não o afectam.
3:99. Com a sua prática eliminam-se a tosse, a asma, a inflamação do baço ,a lepra e todo tipo de enfermidade .
3:100. Oh, Chanda! Não há nada melhor para conseguir siddhi.
Quarto Capítulo: Pratyahara
Descrição da técnica de abstração dos sentidos
Gheranda disse:
4:1. Em seguida, mostrar-te-ei a melhor técnica: pratyáhara. Com o seu conhecimento, dominam-se todas as paixões.
4:2. Deve controlar-se citta, submetendo-a, uma e outra vez, sempre que se distraia atraída pelos objectos externos.
4:3. Há que separar a mente do elogio e da censura, das boas e das más palavras, e pôr a citta sob o controle absoluto de si mesmo.
4:4. Há que separar chitta dos bons e dos maus odores, e de qualquer odorque possa distrair ou atrair a mente, mantendo-a assim sob o controle absoluto de si mesmo.
4:5. Há que separar citta dos sabores doces o amargos, dos ácidos ou salgados, e de qualquer sabor que possa atrair a mente, mantendo-a assim sob o controle absoluto de si mesmo.
Quinto Capítulo: Pranayama
Descrição de oito técnicas respiratórias e considerações sobre as estações do ano, dieta e purificação das nadis
5:2. Para praticar pránáyáma são necessárias quatro coisas: lugar adequado, tempo (meteorológico) favorável, alimentação moderada e purificação denádi.
Lugar
5:3. Não se deve praticar numa zona afastada (de casa/lugar de nascimento), nem num bosque, nem no meio de uma cidade ou de uma multidão. Em caso contrário, não se alcança o êxito.
5:4. Num país distante perde-se a fé (porque é possível que ali não seconheça o yoga). Num bosque está-se indefeso. No meio de uma aglomeração está-se exposto à curiosidade geral. Portanto, há que evitar esses lugares.
5:5. Deve-se construir uma cabana pequena protegida por muros ao seuredor num bom país, com um governante justo, onde a comida se consigacom facilidade e não haja distúrbios.
5:6. No meio do recinto perfurar-se-á um poço e se cavará uma cisterna (acabana deverá dispor de sistemas de provisão de água potável e recolha etratamento de águas residuais). O lugar não será nem muito elevado nem muito baixo, permanecendo livre de insectos.
5:7. Deve-se cobrir completamente com esterco de vaca (uma cobertura isoladora para insonorizar). Neste lugar, construído desta forma num lugar separado, praticar-se-á o pránáyáma.
Tempo
5:8. A prática de yoga não se deve iniciar no Inverno (hemanta), nem com frio (shishira), nem com calor (grishma), nem em época de chuvas (varsha), pois pode-se contrair enfermidades.
5:9. Deve-se começar a prática na Primavera (vasanta) ou no Outono(sharat). Desta forma alcançar-se-á o êxito e não se será afectado porenfermidades.
5:10. As seis estações sucedem-se durante todo o ano, cada dois meses, mascada uma experimenta-se durante quatro meses.
5:11. As seis estações são:
Vasanta (Primavera): Chaitra e Vaishaka Março e Abril
Grishma (Verão): Jeshta e Asadha Maio e Junho
Varsha (Monções): Sravana e bhadra Julho e Agosto
Sharat (Outono): Ashvina e kartika Setembro e Outubro
Hemanta (Inverno): Agrahayana e pausha Novembro e Dezembro
Shishira (Frio): Magha e phalguna Janeiro e Fevereiro.
5:12-14. As estações sucedem-se da seguinte forma:
Magha Vaishaka Vasantanubhava: Janeiro - Abril
Chaitra Asadha Grishmanubhava: Março - Junho
Asadha Ashvina Varshanubhava: Junho - Setembro
Bhadra Agrahayana Sharadanubhava: Agosto - Novembro
Kartika Magha Hemantanubhava: Outubro - Janeiro
Agrahayana Phalguna Shishiranubhava: Novembro - Fevereiro.
5:15. A prática deve iniciar-se na Primavera (vasanta) ou no Outono(sharat), e assim se alcançará o êxito sem problemas.
Dieta
5:16. Quem praticar yoga sem moderação na dieta contrairá váriasenfermidades e não alcançará o êxito.
5:17. O yogi deve comer arroz, cevada e trigo. Pode comer legumes (mudga, masha) e gramíneas (grãos, cereais como milho e trigo e, ainda, folhas). Tudo deve ser limpo e puro.
5:18-19. Um yogui pode comer frutas e vegetais próprios da Índia (pepino;fruto da árvore-do-pão; manakachu; bayas, kakkola; fruto da jojoba; nozes, bunduc; planta maior e suas raízes, figos, plátano verde, beringela e frutose raízes medicinais (riddhi).
5:20. Pode comer as cinco folhas de plantas adequadas para os yogis: vegetais verdes e frescos e vegetais escuros (vastukusaka, hima-lochikasaka).
5:21. Deve encher-se metade do estômago com alimentos puros, doces erefrescantes. Há que beber com prazer sumos doces, deixando vazia a outra metade do estômago. A isto se denomina-se moderação na dieta.
5:22. Meio estômago encher-se-á com comida, uma quarta parte com água ea quarta parte restante deverá deixar-se vazia para a prática de pránáyáma.
5:23. Ao principiar a prática devem-se evitar os alimentos amargos, ácidos,salgados, picantes e tostados. Não se tomará coalhada, manteiga, álcool,vegetais pesados, frutos da palma e frutos demasiado maduros da árvore-do-pão.
5:24. Tão pouco se deverá ingerir certos legumes (kulattha e masur), a frutapandu, abóbora e outras cucurbitáceas (melão, melancia, cabaça, abobrinha,pepino, etc), talos dos vegetais, bagas, kathabel, kantabilva e palasa.
5:25. Evitar também kadamba, jambira, bimba, lukucha, cebolas, lótus,kamaranga, piyala, hinga (assa-fétida), salmani e kemuka.
5:26-27. O principiante deve evitar as viagens frequentes, a companhia dasmulheres e aquecer-se no fogo. Não é conveniente a manteiga fresca, oghee, o leite e o açúcar. Igualmente, o plátano maduro, a semente de cacao,a fruta lavani, amlaki e tudo o que contenha sumos ácidos.
5:28. Durante a prática de yoga pode-se comer cardamomo, jaiphal, cravo-da-índia, afrodisíacos ou estimulantes, jambo-rosa, haritaki e seiva de palma(palmeira).
5:29. Se o desejar, o yogi pode comer alimentos refrescantes e agradáveisque mantenham os fluidos do corpo.
5:30. Devem-se evitar os alimentos de digestão pesada, os que estejam emmau estado ou podres, os demasiado quentes ou demasiado frios e os muitoexcitantes.
5:31. Não é conveniente banhar-se muito cedo (antes do nascer do sol), jejuar ou qualquer outra coisa que agrida o corpo. O yogui deve comervárias vezes ao dia e evitar não comer em absoluto ou comer com demasiadafrequência.
5:32. Seguindo estas indicações, deve-se iniciar a prática de pránáyáma. Aoprincípio há que tomar diariamente um pouco de leite e ghee antes decomeçar os exercícios de pránáyáma; e comerá duas vezes por dia: uma vez,a meio do dia e, outra vez, à tarde.
Purificação das nadi
5:33. Sentar-se de forma calma e serena sobre um assento de erva kusha,pele de tigre ou de antílope, sobre uma manta ou directamente sobre a terra,voltado para este ou para norte. Depois de purificar as nádi, há que iniciarpránáyáma.
5:34. Chanda Kapali disse: Oh, oceano de misericórdia, como se purificamas nádi? O que é a purificação das nádi? Quero aprender tudo isso.
5:35. Gheranda disse: o váyu não pode entrar nas nádi enquanto estiverem cheias de impurezas. Como se pode então conseguir o pránáyáma? Comopode haver conhecimento dos tattva? Portanto, primeiro há que purificar asnádi e depois praticar o pránáyáma.
5:36. A purificação das nádi é de dois tipos: samanu e nirmanu. Samanuefectua-se recitando o bíja-mantra. Nirmanu realiza-se praticando a limpezafísica.
5:37. A limpeza física ou dhauti já foi ensinada; consiste em seis sadhana.Oh Chanda, a seguir, escuta o processo samanu para purificar as nádi.
5:38. Há que sentar-se padmásana e efectuar o ritual da adoração ao guru,segundo indique o Mestre, para purificar as nádi e obter êxito nopránáyáma.
5:39-40. Concentrado no váyu-bíja (yam) e na cor do fumo (cinza), cheio deenergia, inspirar pela fossa nasal esquerda repetindo mentalmente o bíjadezasseis vezes. Isto denomina-se puraka. A seguir, reter a respiraçãocontando sessenta e quatro repetições do mantra. Isto é kumbhaka. Expirardepois lentamente o ar através da fossa nasal direita, enquanto se contamtrinta e dois repetições do mantra.
5:41-42. A essência do fogo (agni-tattva) reside na raiz do umbigo. Há quelevantar o fogo deste sítio e uni-lo à essência da terra (prithivi-tattva) paraconcentrar-se profundamente na luminosidade que se origina. Repetir depoiso agni-bíja dezasseis vezes, enquanto se inspira pela fossa nasal direita; reter o ar enquanto se repete o mantra sessenta e quatro vezes e expirardepois pela fossa nasal esquerda repetindo o mantra trinta e duas vezes.
5:43-44. A seguir, fixa-se o olhar na ponta do nariz, contemplando ali oreflexo luminoso da lua, enquanto se inspira pela fossa nasal esquerda,repetindo dezasseis vezes o bíja tam; seguidamente, reter e repetir o bíjatam sessenta e quatro vezes, enquanto se contempla como o néctar que fluida lua até à ponta do nariz recorre todas as nádi purificando-as. Mantendoesta contemplação, expirar repetindo trinta e duas vezes o prithivibíja lam.
5:45. Mediante estes três pránáyáma purificam-se as nádi. Uma vez feitoisto, sentado firmemente, praticar o pránáyáma normal.
Pránáyáma
5:46. O kumbhaka pode ser de oito tipos: sahita, súryabheda, ujjayi, sitali,bhastrika, bhramari, murcha e kevala.
Sahita
5:47. Sahita-kumbhaka pode ser de duas classes: sagarbha e nirgarbha(com som e sem som). Sagarbha é o kumbhaka efectuado enquanto serepete o bíja-mantra, e nirgarbha é o que se faz sem essa repetição.
5:48. Primero dir-te-ei o sagarbha. Sentado na postura sukhásana, voltadopara este ou para norte, deve contemplar-se Brahma cheio de rajas, comuma coloração vermelha como o sangue, por debaixo da forma da letrasânscrita 'a'.
5:49. O sábio praticante deve inspirar por ida repetindo a letra 'a' (de'aum', ou 'om') dezasseis vezes. Justamente, ao finalizar a inspiração eantes da retenção, deve-se adoptar uddiyana bandha.
5:50. Reter o ar enquanto se repete sessenta e quatro vezes a letra 'u' e secontempla Hari, de cor negra e qualidade sattva.
5:51. Expirar, em seguida, por pingala, repetindo makara (a letra sânscrita'm') trinta e duas vezes, contemplando agora Shiva de cor branca equalidade tamas.5:52. Depois, inspirar através de pingala, reter com kumbhaka e expiraratravés de ida, tal como se mostrou anteriormente, alternando a respiraçãopor ambas as fossas nasais.
5:53. Praticar deste modo uma e outra vez, alternando os orifícios nasais. Aocompletar a inspiração tapar ambas as fossas nasais; a direita com o polegare a esquerda com o anelar e o mindinho, sem empregar em nenhum caso oindicador nem o dedo médio. As fossas nasais permanecem tapadas duranteo kumbhaka.
5:54. O nirgarbha realiza-se sem repetir o bíja-mantra. O períodode puraka, kumbhaka e rechaka pode estender-se de um a cem mátras.
5:55. O melhor são vinte mátra, o mesmo é dizer, um puraka de 20 segundos, um kumbhaka de 80 e um rechaka de 40. Dezasseis mátra étermo intermédio, isto é, 16.64.32. Doce mátra é o mais fácil, ou seja,12.48.24. Assim, o pránáyáma é de três tipos.
5:56. Praticar o pránáyáma mais fácil, durante um certo tempo, faz o corpocomeçar a transpirar abundantemente. Com o pránáyáma intermédio ocorpo começa a tremer, especialmente ao longo da coluna vertebral. Com o pránáyáma superior, o corpo eleva-se no ar, isto é, consegue-se levitar.Estos sinais reflectem o êxito em cada um dos três tipos de pránáyáma.
5:57. Mediante o pránáyáma consegue-se a levitação (khechari-Shakti),curam-se as enfermidades, desperta-se Shakti, obtém-se serenidade mental,potenciam-se os poderes paranormais e alcança-se um estado de felicidademental. Realmente, o praticante de pránáyáma é feliz.
Súryabheda
5:58-59. Inspirar com a máxima força por pingala; reter cuidadosamentecom jalandara mudra. Manter kumbhaka até que brote transpiração na raizdos cabelos e nas unhas.
5:60. Os váyu são dez: prána, apana, samána, udána e vyána; naga, kúrma,krikara, devadatta e dhananjaya.
5:61-62. Prána move-se sempre no coração, apana na esfera do ânus,samána na região do umbigo, udána na garganta e vyána encontra-se emtodo o corpo. Estes são os cinco váyu principais, pertencem ao corpo interiore denominam-se pránanádi. Os cinco váyu naga-nádi pertenecem ao corpo exterior.
5:63-64. Em seguida, mostrar-te-ei o âmbito destes cinco váyu externos.Naga-váyu realiza a função de arrotar, kúrma abre as pálpebras, krikaraproduz os espirros, devadatta os bocejos e dhananjaya impregna, por completo, todo o corpo material e não o abandona nem sequer depois da morte.
5:65. Naga-váyu origina a consciência, kúrma da visão, krikara a fome e asede, devadatta faz bocejar e dhananjaya gera o som; este último jamaisabandona o corpo.
5:66-67. O praticante deve levantar todos estes váyu, inspirando por súrya-nádi, desde a raiz do umbigo; depois deve expirar através de ida-nádi deforma suave e sem interrupção. Inspirar novamente pelo orifício nasaldireito, reter o ar na forma indicada e expirar de novo, repetindo todo oprocesso, uma e outra vez. A inspiração faz-se sempre através da fossa nasaldireita.
5:68. Súryabheda-kumbhaka destrói a decadência e a morte, desperta akundalini Shakti e aumenta o fuego corporal. Oh, Chanda! Assim te ensineisúryabheda-kumbhaka.
Ujjayi
5:69. Fechar a boca, inspirar o ar do exterior por ambas as fossas nasais e,ao mesmo tempo, elevar o ar interno desde o peito à garganta e manterambos na boca.
5:70. Efectuar um vigoroso kumbhaka, praticando jalandara, e logo expiraro ar pela boca.
5:71-72. Tudo se consegue mediante ujjayi-kumbhaka. Nunca se contra enfermidades por mucosidade, nem padecimentos nervosos, indigestão,disenteria, tuberculose, tosse, febre ou inflamação do baço. Quem praticaujjayi anula a decadência e a morte.
Sitali
5:73. Inspirar o ar pela boca, com a língua estirada para fora e curvada,enchendo lentamente a zona abdominal. Reter o ar por um breve período eexpirar em seguida por ambas as narinas.
5:74. Sitali-kumbhaka proporciona o êxito e o yogi deve praticá-lo a todo omomento. Desta forma se evitará a indigestão e as desordens surgidas do desequilíbrio entre kapha e pitta.
Bhastrika
5:75. Igual ao fole do ferreiro que se dilata e contrai constantemente, deveinspirar-se lentamente por ambas as narinas enchendo o abdómen; emseguida, expirar com força produzido um som semelhante ao de um fole.
5:76-77. Após efectuar vinte vezes esta técnica, deve reter-se a respiraçãocom os pulmões cheios (kumbhaka) e depois expirar como antes. O sábiorealizará todo este processo três vezes; nunca padecerá de enfermidades eestará sempre saudável.
Bhramari
5:78. Depois da media noite e num lugar onde não se oiçam os animais nemnenhum outro ruído, o yogi deve praticar puraka e kumbhaka tapando osouvidos com as mãos.
5:79-80. Então escutar-se-ão vários sons no interior do ouvido direito. Noinício ouvir-se-á algo como o canto de um grilo, depois, sucessivamente,como o som de uma flauta, o ruído do trovão, o de um escaravelho, o decampainhas, o gongo metálico, trombetas e timbais, miridanga, tambores deguerra e dundubhi.
5:81-82. Praticando diariamente este kumbhaka, conhecem-se todos estessons. Finalmente, escuta-se o som anahata, que provêm do coração. Estesom origina uma ressonância, e nessa ressonância há uma luz. A mente deve submergir-se nessa luz. Quando a mente se concentra profundamente,alcança-se paramapada (a sede mais alta de Vishnu). Com o domínio destebhramari-kumbhaka obtêm-se o samádhi.
Murcha
5:83. Enquanto se efectua kumbhaka com comodidade, isolar a mente detodos os objectos e fixar a atenção no intercílio. Isto causa o esvanecer damente e concede a felicidade, já que, unindo manas e atman obtêm-serealmente o samádhi.
Kevala
5:84. O alento de qualquer pessoa, ao inspirar, produz o som sah e aoexpirar, o som ham. Estes dois sons forman soham (eu sou), ou, hamsa (ogrande cisne). Ao longo do dia respira-se 21.600 vezes desta forma (cerca de 15 respirações por minuto). Todo jiva (ser vivo) realiza constantemente este japa, sem ser consciente dele. Esto denomina-se ajapa gayatri.
5:85-87. Este ajapa-japa realiza-se em três sítios: no muladhara chakra, noanahata chakra e no ajña chakra.5:86-87. O corpo mede, em média, 96 dedos de largura (1,828 m). O comprimento normal da corrente de ar expirado é de 12 dedos (22,86 cm);quando se canta, esta corrente mede 16 dedos (30,48 cm); ao comer é de 20 (38,10 cm); ao caminhar é de 24 (45,72 cm); ao dormir é de 30 (57,15 cm);durante o sexo é de 36 (68,58 cm) e ao fazer exercício físico é ainda maior.
5:88. Reduzindo a duração normal do fluxo de ar expirado, abaixo de 12dedos e tornando-a cada vez menor, aumenta-se o tempo de vida. Pelocontrário, aumentando a duração da corrente de ar, o tempo de vida reduz-se.
5:89. Enquanto o alento permanecer dentro do corpo, não haverá morte.Quando toda a corrente de ar se encontra dentro do corpo, sem deixar que nada se escape, produz-se kevala-kumbhaka.
5:90-91. Todos os jiva recitam constante e inconscientemente o ajapamantra, durante um número indeterminado de vezes ao dia. Mas um yogi deve contá-lo e recitá-lo conscientemente. Dobrando onúmero de ajapa (ou seja, com 30 respirações por minuto) consegue-semanonmani-avastha. Nesta técnica não há rechaka e puraka normais. Só há kevala-kumbhaka.
5:92. Inspirar por ambas as narinas e realizar kevala-kumbhaka. No primeirodia, o alento retém-se entre uma e sessenta e quatro vezes.
5:93-94. Kevala deve realizar-se oito vezes ao dia, uma vez cada três horas.Também pode efectuar-se cinco vezes ao dia, da seguinte forma: pela manhã muito cedo, ao meio dia, ao entardecer, à meia noite e ao final da noite.Pode-se optar também por praticar três vezes ao dia: pela manhã, ao meiodia e pela tarde.
5:95-96. Até que se consiga o êxito em kevala, deve aumentar-se a duração de ajapa-japa, de uma a cinco vezes diárias. Quem conhecer o pránáyáma e o kevala será um autêntico yogi. O que não conseguirá neste mundo quem tenha triunfado em kevala-kumbhaka?
Sexto Capítulo: Dhyana
6:1. Gheranda disse: "dhyāna é de três classes: sthūla, sūkṣma e jyotir". Quando se contempla uma forma concreta, como o guru ou iṣṭadevatā, chama-se sthūla. Quando se contempla Brahma ou prakriti, como uma massa luminosa, denomina-se jyotis. Quando se contempla Brahma como bindu ou kuṇḍalinī, denomina-se sūkṣma.
Sthula Dhyana
6:2-8. Com os olhos fechados, imaginar que há um mar de néctar dentro do coração e no meio deste mar há uma ilha de pedras preciosas, cujas areias são formadas por diamantes e rubis pulverizados. Por toda a parte, observam-se árvores kadamba, cheias de flores perfumadas; perto dessas árvores, como numa planície, observa-se uma fila de árvores em flor, tais como mālati, mallikā, jātī, kesara, champaka, pārijāta e padmas, espalhando a sua fragrância por todo lado. O yogui deve imaginar que no meio deste jardim ergue-se uma bela árvore kalpa, com quatro ramas que representam os quatro Vedas, cheio de flores e de frutos. Ali esvoaçam os insectos e cantam os pássaros. Por debaixo da árvore, o yogui deve imaginar uma rica plataforma de pedras preciosas e sobre ela um magnífico trono com jóias incrustadas, e que sobre esse trono se senta sua iṣṭadevatā, tal como lhe ensinou o seu guru. Deve-se contemplar exactamente essa forma com os adornos e o veículo da divindade. A contemplação continuada desta maneira é sthūla dhyāna.
6:9-11. Outra técnica é a seguinte: o yogui deve imaginar que no exterior do grande lótus de mil pétalas (sahasrāra cakra) há um lótus mais pequeno, de doce pétalas, de cor branca e muito luminoso, com doce letras bīja, denominadas ha, sa, kṣa, ma, la, va, ra, yum, ha, sa, kha, phrem. No exterior deste lótus menor há três linhas que formam um triângulo (a, ka, tha), com três ângulos denominados ha, la, kṣa. No centro deste triângulo está o praṇava ॐ (OM).
6:12. Em seguida, contemplar dentro deste o lugar onde residem nāda e bindu. Neste sítio há dois cisnes e um par de sandálias de madeira.
6:13-14. Depois deve contemplar-se guru deva, com dois braços e três olhos, vestido com roupas brancas e puras, ungido com pasta branca de sândalo e coberto de grinaldas de flores brancas. À esquerda da divindade está Śakti, de cor vermelha sangue. Contemplando deste modo o guru, alcança-se sthūla dhyāna.
Jyotir Dhyana
6:15. Gheranda disse: "mostrei-te sthūla dhyāna. Escuta agora a contemplação da luz pela qual o yogui alcança o êxito e conhece a sua autêntica natureza".
6:16. Em mūlādhāra está kuṇḍalinī, sob a forma de uma serpente. O jivātmā reside ali como a chama de uma lamparina. Deves contemplar esta chama como Brahma luminoso. Isto denomina-se tejo dhyāna ou jyotir dhyāna.
6:17. Outra técnica é a seguinte: o yogui deve contemplar a luz de OM, como uma chama no centro das sobrancelhas, acima de manas. Este é um outro método para contemplar a luz.
Suksma Dhyana
6:18-19. Oh, Caṇḍa! Ouviste já a técnica de tejo dhyāna. Escuta agora sūkṣma dhyāna. Quando, por uma grande sorte se desperta kuṇḍalinī, esta reúne-se com ātmā e abandona o corpo físico através das portas dos olhos, regozija-se marchando pelo caminho real (corpo subtil ou sūkṣma-śarīra). Mas não pode ver-se devido à sua subtileza e a sua enorme mutabilidade.
6:20. No entanto, o yogui consegue o seu objectivo realizando śāmbhavi mudrā, isto é, olhando fixamente o espaço sem pestanejar (então, poderá ver sūkṣma-śarīra). Isto denomina-se sūkṣma dhyāna, difícil de atingir mesmo para os deva, pois constitui um grande mistério.
6:21. Jyotir dhyāna é cem vezes superior a sthūla dhyāna; mas sūkṣma dhyāna é cem mil vezes superior a jyotir dhyāna.
6:22. Oh Caṇḍa! Desta forma, revelei-te dhyāna yoga, um conhecimento muito valioso pois, por meio dele, é possível conhecer a autêntica natureza do Ser. É, precisamente, por isto que se exalta dhyāna.
Sétimo Capítulo: Samadhi
Descrição de várias técnicas para induzir o ênstase
7:2. Esta fantástica técnica de samádhi será prontamente dominada peloyogui que tenha confiança no conhecimento, no seu guru e em si mesmo, e,cuja mente se abra à inteligência todos os dias.
7:3. Samádhi ou mukti é a libertação de todos os estados de consciência econsiste em separar manas do corpo para uni-lo a paramátman.
7:4. Eu sou Brahman, não sou nada mais; realmente sou Brahman e não meafecta o sofrimento; sou sat-chit-ánanda, sempre livre; participo de umaúnica essência.
7:5-6. O samádhi tem quatro formas: dhyána, nada, rásananda e laya, quese alcançam respectivamente mediante shambavi, khechari, bhramari e yonimudra. O samádhi de Bhakti Yoga é o quinto; e o samádhi de Raja Yoga,que se obtém mediante mano-murchakumbhaka, é o sexto.
Dhyána-yoga-samádhi
7:7. Ser consciente de átman enquanto se efectua shambavi. Quando se consegue contemplar Brahman em bindu, há que concentrar-se nesse ponto.
7:8. Levar átman até akásha e akásha até átman, fundindo-os. Desta forma,com átman cheio de akásha, não haverá nenhum obstáculo; e cheio de completa felicidade, o praticante entrará em samádhi.
Nada-yoga-samádhi
7:9. Dar a volta à língua para cima e para trás, fechando os condutos do ar,realizando assim khechari. Com esta técnica provoca-se o samádhi. Não épreciso nada mais.
Rásananda-yoga-samádhi
7:10-11. O praticante deve realizar bhramari inspirando e expirandolentamente o ar, enquanto escuta um zumbido como o de um escaravelho (oum abelhão). Deve-se concentrar manas justamente no centro destezumbido. Com esta técnica atinge-se o samádhi e surgirá o conhecimentosoham (eu sou), alcançando uma grande felicidade.
Laya-yoga-samádhi
7:12-13. O praticante deve realizar yonimudra, enquanto imagina que o eu éShakti, que o purusha é paramátman e que ambos formam apenas um. Destamaneira atinge-se samádhi e chega-se a compreender aham-Brahman (souBrahman). Isto conduz directamente a advaita-samádhi (samádhi não dual).
Bhakti-yoga-samádhi
7:14-15. Contemplar dentro do coração. Encher-se de êxtase por talcontemplação, derramando lágrimas de felicidade e absorvendo-se pelaemoção. Isto conduz ao samádhi e a manomani-avastha.
Raja-yoga-samádhi
7:16. O praticante deve realizar mano-murcha-kumbhaka, enquanto se unemmanas e átman. Com esta união obtém-se o rajayoga-samádhi.
7:17. Oh Chanda! Desta maneira mostrei-te o samádhi, que conduz àliberação. Rajayoga-samádhi, unmani e sahajavastha são sinónimos quefazem referência à união de manas e átman.
7:18. Vishnu está na água, na terra, em cima da montanha, no meio do fogo e das chamas vulcânicas; todo o universo está permeado por Vishnu.
7:19. Tudo o que caminha sobre a terra, o que se move no ar, os seres vivos,as árvores, arbustos, raízes, plantas trepadoras, ervas, etc, os oceanos emontanhas; todos te reconhecem como Brahman. Contempla tudo emátman.
7:20. Átman, confinado dentro do corpo, é caitanya. É intrinsecamente o Eterno, o Supremo. Deve contemplar-se separado do corpo físico, livre dedesejos e paixões.
7:21. Assim obtém-se o samádhi, libertando-se de todos os desejos, doapego ao próprio corpo, à família, aos amigos e às riquezas. Libertando-sede todo apego, o praticante obtém o samádhi absoluto.
7:22. Shiva revelou muitos tattva, como laya amrita e outros. Mostrei-tetodos eles num resumo que te conduzirá à emancipação.
7:23. Oh Chanda! Desta forma mostrei-te o samádhi, difícil de se obter. Se o alcançares, não voltarás a renascer neste plano de existência.
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