10 de nov. de 2010

DHAMMAPADA

Dhammapada é um texto budista versificado do cânone Theravada. São 423 aforismas no idioma dos textos sagrados do Sri Lanka (Ceilão), Mianmar (Birmânia) e Indochina. Fazem parte do Khuddaka Nikaya, um dos textos que compõem o Sutta Pitaka (compilação de discursos). Metade dos versos também pode ser encontrada em outras partes do cânone em pali. Comentários atribuídos ao estudioso Buddhaghosa no século V incluem 305 histórias que dão contexto aos versos.

Escreve-se “Dhammapada” no original em pali ou “Dharmapada” em sânscrito. O termo Dhamma pode se referir à doutrina do Buda, à Verdade Eterna (Lei), à retidão ou a todos os fenômenos. O termo Pada significa pé, mas neste contexto pode se referir a caminho ou versos.
De acordo com a tradição, os versos do Dhammapada foram recitados pelo próprio Buda em várias ocasiões e compilados em torno de um tema central para cada capítulo. A maioria dos versos trata da ética e há muita polêmica sobre a pureza da versão original.
O Buda observou, refletiu e expôs em forma de argumentação suas Quatro Nobres Verdades: Há sofrimento; O sofrimento tem origem no medo e no desejo; A extinção do medo e do desejo extingue o sofrimento; Seguir o Nobre Caminho Óctuplo é eliminar o medo e o desejo.

Resumidamente, este é o Nobre Caminho Óctuplo: Visão correta; Intensão correta; Palavras corretas; Atos corretos; Meio de vida correto; Esforço correto; Atenção correta e Concentração correta.


DHAMMAPADA Capítulo I – Princípios Paralelos

“Todos os estados anímicos nascem na mente. A mente é seu fundamento e somente ela lhes dá origem. Se alguém fala ou age de acordo com um pensamento impuro, o sofrimento o perseguirá como a roda segue os cascos do boi.
Todos os estados anímicos nascem na mente. A mente é seu fundamento e somente ela lhes dá origem. Se alguém fala ou age de acordo com pensamentos puros, a felicidade o perseguirá como uma sombra fiel.
“Esse homem me humilhou, me agrediu, me venceu, me roubou”. O ódio de quem abriga tais pensamentos não se apaga jamais.
“Esse homem me humilhou, me agrediu, me venceu, me roubou”. Àqueles que afastam de si tais pensamentos o ódio jamais possue.
O ódio não será vencido neste mundo através do ódio. Somente o amor pode apagá-lo. Esta é a lei antiga e eterna.
São muitos os que ignoram que a disputa nos leva à morte. Quem compreende isso, abandona para sempre as disputas.
Aquele que é dominado pelos prazeres, de desejos descontrolados, aquele que come desmesuradamente, o implacável, o preguiçoso, esse será abatido por Mara como uma árvore abatida pelo vento.
Aquele que sabe das impurezas, que governa seus sentidos, aquele que come comedidamente, o piedoso, o trabalhador, não será abatido nunca por Mara, como uma montanha não pode ser abatida pelo vento.
Aquele que não domina a si mesmo se afasta da verdade e não é merecedor da túnica amarela de monge.
Aquele que ficou livre de toda mancha, que estima a moral, o que é temperado, que domina a si mesmo e ama a verdade, é merecedor da túnica amarela de monge.
Os que confundem o essencial com o supérfluo jamais alcançam, devido à sua confusão, o Essencial que é o Nirvana, o supremo refúgio que se encontra além de todas as amarras.
Mas aqueles que vêem o essencial no essencial e o supérfluo no supérfluo, por seu julgamento reto, alcançam o Essencial.
A ansiedade penetra a mente mal cultivada como a chuva penetra uma casa sem telhado.
A ansiedade não entra na mente mal cultivada, assim como a chuva não entra em uma casa provida de bom telhado.
O homem mau se lamenta todo o tempo e em todo lugar e, percebendo a impureza de seus atos, é abatido pelo sofrimento.
O homem bom se regozija todo tempo e em todo lugar e, percebendo a pureza de seus atos, é enaltecido pela alegria.
O homem que age mal, sofre o tempo todo e, consciente de que agiu mal, vai aumentando seu sofrimento.
O homem que age bem, alegra-se o tempo todo e, consciente de que age bem, vai aumentando sua alegria.
Mesmo que recites as escrituras constantemente, se não ages de acordo com o Dhamma, és como o vaqueiro que conta as vacas dos outros em vez de suas próprias.
Mesmo que não recites as escrituras constantemente, se ages conforme o Dhamma, abandonando o desejo, o ódio e a ignorância, sua mente se liberta e perde toda dependência do espaço e do tempo.”


DHAMMAPADA Capítulo II – A Vigilância


“A vigilância conduz à imortalidade. A falta de vigilância conduz à morte. Quem permanece vigilante não morre. Quem não está vigilante já morreu.
Entendido isso, os sábios se mantém vigilante e se regozijam nisso, desfrutando da terra dos nobres.
Aquele que constantemente medita, se livra de toda amarra e alcança o supremo Nirvana.
Bem-aventurado aquele que se esforça! Bem-aventurado aquele que se mantém vigilante! Bem-aventurado o homem de conduta pura! Bem-aventurado o homem que domina a si mesmo! Bem-aventurado o homem de vida reta! Bem-aventurado o homem capaz de permanecer em constante vigilância!
Através do esforço, da vigilância, da disciplina e da moderação, o homem sábio se transforma numa ilha que não pode ser inundada.
O ignorante não estima a vigilância, mas o sábio a guarda como o melhor de seus tesouros.
Não sejais negligentes, não os abandoneis aos prazeres dos sentidos. O homem vigilante alcança a felicidade.
Quando o monge fortalece sua vigilância, se libera de todo conflito, ascende ao palácio da sabedoria e observa as pessoas que sofrem como um sábio da montanha contemplando os ignorantes que estão lá embaixo.
O sábio avança como um veloz cavalo entre os desastrados pangarés. Vigilante entre os distraídos, desperto entre os adormecidos.
Por permanecer alerta, Indra prevaleceu contra os deuses. Por isso a vigilância é exaltada e a negligência desprezada.
O monge que se mantém vigilante e teme o descuido, avança como o fogo superando todos os obstáculos.”

DHAMMAPADA Capítulo III – A Mente


“O sábio direciona a indomável mente como o arqueiro direciona a flecha.
A mente se sacode como um peixe na areia, por isso deves abandonar o terreno das paixões.
Mesmo que seja de difícil controle, volúvel e ansiosa, é bom dominar a mente, pois seu domínio leva à felicidade.
Mesmo que seja de difícil apreensão, devido à sua sutileza e tendência à fantasia, o sábio domina a mente e com isso atinge a felicidade.
A mente caminha sem rumo, solitária, sem corpo, escondida nas cavernas. Aqueles que conseguem dominá-la livram-se das correntes de Mara.
O homem de mente descontrolada desconhece o ensinamento sublime, e o de confiança temerosa não alcança a plena sabedoria.
Aquele que dominou sua mente e a afastou do ódio, levando-a além do bem e do mal, permanece atento e nada teme.
Compreendendo que seu corpo é frágil como um vaso e fortalecendo sua mente, vencerá a Mara com o aço da sabedoria. Protegerá sua conquista e estará por cima das coisas terrenas.
Não passará muito tempo antes que o corpo, desprovido de consciência, esteja embaixo da terra como um tronco desprovido de valor.
Uma mente mal governada pode causar mais dor que o pior dos inimigos e o mais entranhado dos ódios.
Uma mente bem governada causa mais benefícios que um pai, uma mãe ou um parente amado.”


DHAMMAPADA Capítulo IV – Flores 
“Quem poderá cultivar a terra de Yama e o mundo dos devas? Quem fertilizará o abençoado caminho da virtude colhendo as melhores flores?
A terra de Yama e o mundo dos devas serão cultivados pelo discípulo fiel. Ele fertilizará o caminho da virtude como um jardineiro e colherá as melhores flores.
Compreendendo que este corpo não é mais que espuma do mar e pura ilusão, arrancará os espinhos da paixões e se esquivará do senhor da morte.
Aquele que somente colhe as flores das paixões, que só ocupa sua mente com o sensual, é arrasado pela morte como um povoado arrasado pela inundação.
Aquele que somente colhe as flores das paixões, que só ocupa sua mente com seus desejos, será dominado pelo Destruidor.
Assim como a abelha suga de flor em flor, sem ferir sua cor e aroma, e depois se afasta, levando apenas o mel, assim passa o sábio por esta existência.
Não devemos fixar nossa atenção no que os outros fazem ou deixam de fazer, mas devemos centrarmos no que nós mesmos fazemos ou deixamos de fazer.
As palavras que não são levadas à ação são como flores sem perfume.
As palavras que são levadas à ação são como flores de transbordante aroma.
Aquele que nasce como ser humano deve realizar muitíssimos atos belos, pois muitíssimas flores fazem uma grande grinalda.
A fragrância das flores, o aroma da madeira do sândalo, do rododendro ou do jasmín, não se propaga contra o vento. No entanto a fragrância do virtuoso se expande por todas partes.
O perfume da virtude supera as fragrâncias do sândalo, do rododendro, do lótus e do jasmin.
A fragrância do rododendro e do sândalo não chegam muito longe, mas o perfume da virtude alcança até mesmo os deuses.
Os virtuosos, os vigilantes e os que estão livres de mácula, pela perfeita realização das verdades, não são alcançados por Mara.
O cheiroso lótus pode germinar e crescer, inclusive no esterco.
A sabedoria do discípulo germina e cresce, inclusive entre os ignorantes.”


DHAMMAPADA Capítulo V – O Ignorante
 
“A noite é longa para quem não dorme e longo é o caminho para o viajante cansado. Longa é também a repetição da existência para o ignorante que desconhece o Dhamma.”
“Se um homem não encontra outro que seja igual ou superior a si, é melhor que insista sozinho na busca do Dhamma, porque a amizade não nasce com o ignorante.”
“O ignorante diz: “Tenho filhos e tenho riquezas”. Não entende que, se ele próprio não se pertence, muito menos pertencerão seus filhos e suas riquezas.”
“Se um ignorante sabe de sua ignorância, já é um sábio. Se um ignorante pensa que é sábio, é um verdadeiro ignorante.”
“Assim como a colher não saboreia a sopa, o ignorante não compreende o Dhamma só por andar junto ao sábio.”
“Assim como a boca capta o sabor da sopa, o homem inteligente compreende o Dhamma por andar junto ao sábio.”
“Os homens ignorantes são inimigos de si mesmos, pois de suas ações nascem amargos frutos.”
“Quando uma ação provoca arrependimento e derrama lágrimas, é uma má ação.”
“Se uma ação não provoca remorso e enche a mente de alegria e felicidade, é uma boa ação.”
“Enquanto não nascem os frutos da má ação, o ignorante pensa que ela é doce como o mel. Mas quando a má ação amadurece e produz seus frutos, o ignorante fica inundado pelo sofrimento.”
“Mesmo que o ignorante tivesse como único alimento, por longos meses, um punhado da erva kusa, o dano não seria nem uma sexta parte do sofrimento que produzem as más ações.”
“Assim como o leite não fica azedo de um momento a outro, a má ação também não oferece imediatamente seus frutos. Assim como o fogo queima embaixo das cinzas, a má ação queima o ignorante.”
“O ignorante consegue reconhecimento e fama que retorçem seu destino e ofuscam sua mente.”
“O ignorante quer ser elogiado e coberto de honrarias entre os monges, nos monastérios e destacar-se entre todos os homens.”
“A ambição do ignorante, seus desejos e seu orgulho vão crescendo enquanto leigos e monges pensam que ele está fazendo seu trabalho sozinho.”
“Mas uma coisa é o caminho que leva aos tesouros terrenos, outra coisa é o que leva ao Nirvana. Compreendendo isso, o monge não se deleita nos prazeres terrenos e se mantém acima deles.”


DHAMMAPADA Capítulo VI – O Sábio

 “Se um sábio como um caçador de tesouros, te indica todos os teus defeitos, une-te a ele, pois sua companhia te será proveitosa.
Segue seu conselho e ele te afastará do erro. Sua companhia é doce para o nobre e amarga para o ignorante.
Afástate das companhias ignorantes e vulgares. Aproxímate aos nobres e aos melhores entre os homens.
O sábio se regozija no Dhamma que proclamam os nobres iluminados, e todo aquele que bebe da Fonte do Ensinamento traz serenidade a sua mente e vive feliz.
Assim como canalizam a água os responsáveis pela irrigação, assim como direciona sua flecha o arqueiro e assim como talha a madeira o carpinteiro, assim perseveram os sábios na disciplina.
O sábio permanece impassível perante a calúnia e a adulação como uma rocha permanece impassível perante o sopro do vento.
A paz do sábio ao escutar o Dhamma é tão aprazível e transparente como a água de um profundo lago.
O homem santo se desapega de todas as coisas e não se deixa levar pelos sentidos. Por sua sabedoria, se mostra impassível perante a felicidade e perante o sofrimento.
O sábio não deseja filhos nem riqueza, nem reinos nem seu próprio triunfo. E com sua atitude mostra sua virtude, sua sabedoria e sua retidão.
São poucos os homens que cruzam o rio. A maioria se limita a subir e descer pela mesma margem.
Mas aqueles que, seguindo corretamente o Dhamma, agem segundo o estabelecido, vão além das paixões e alcançam o Nirvana.
Que o homem sábio fuja da escuridão e se aproxime da luz abandonando seu lar.
Mesmo que seja difícil, prevalecerá sobre os prazeres terrenos e se deleitará no desapego. Desse modo se liberará o sábio das impurezas da mente.
Aqueles que aperfeiçoam suas mentes na Iluminação, livres das amarras das paixões, esclarecidos e livres de toda corrupção, alcançam o Nirvana neste mundo.”



DHAMMAPADA Capítulo VII – O Honesto

 “O fogo das paixões foi extinto por aqueles que se libertaram do sofrimento e deram um fim a todas as amarras. Esses concluíram sua viagem.
Permanecendo constantemente vigilantes, sem apego a lugar algum, abandonam lugar por lugar como um cisne abandona os lagos.
Não tem mais valor para eles acumular riquezas, pois seu único alimento é a liberdade, que não é nada mais que vazio e infinito. Passam sem deixar rastro, como os pássaros no ar.
Quando não há corrupção da mente, já não é necessário o alimento, e seu único desejo é a liberação, que é o vazio e o infinito. Caminham sem deixar pegadas, como os pássaros no céu.
Aquele que domina seus sentidos como o auriga a seus cavalos; aquele que purifica seu orgulho e se desfaz das paixões, é invejado inclusive pelos deuses.
O homem temperado e amigo da disciplina é estável como a terra, firme como uma coluna e nítido como um lago cristalino. Por sua temperança está livre de novos nascimentos.
Aquele que alcança o conhecimento perfeito vive em paz e se mantém firme. Aquele que está liberado tem a mente tranqüila, tranqüila é sua palavra e tranqüilos seus atos.
O homem supremo é aquele que compreendeu o Não-Criado, que se desfez de toda dúvida, que se livrou de todas as amarras, que se elevou acima do bem e do mal e pôs um fim a todos seus desejos.
Qualquer morada é deliciosa para o homem iluminado. Não importa se vive numa vila o na floresta. Não importa se vive na escuridão ou num lugar luminoso.
Inclusive as florestas, que as pessoas comuns julgam desagradáveis, são uma delícia para o homem iluminado, pois qualquer lugar é delicioso para aquele que queimou suas paixões e se encontra além dos prazeres dos sentidos.”


DHAMMAPADA Capítulo VIII – Mil

 “Uma só frase racional, capaz de acalmar àquele que a escuta, é melhor do que mil discursos cheios de palavras embaralhadas sem significado algum.
Um só verso benéfico, capaz de acalmar àquele que o escuta, é melhor do que mil versos repletos de palavras inúteis.
Uma só palavra do Dhamma, capaz de acalmar àquele que a escuta, é melhor do que mil doutrinas cheias de palavras vazias.
Melhor é a conquista de si mesmo do que a conquista de mil vezes mil homens em batalha.
Melhor é a conquista de si mesmo do que a conquista de outros.
A vitória daquele que conquistou a si mesmo e se comporta com temperança, não pode destruída nem por um deus nem por um semi-deus, nem por Mara nem por Brahma.
Melhor é render honras, por um só instante, ao homem iluminado, do que oferecer sacrifícios a cada mês por cem anos.
Melhor é render honras, por um só instante, ao homem iluminado, do que cumprir o ritual do fogo na floresta a cada mês por cem anos.
Muito melhor é honrar ao santo excelente do que todas as oferendas e presentes que se possam oferecer neste mundo durante mil dias para obter homenagens.
Sobre aqueles que habitualmente honram e respeitam aos mais velhos, vão recaindo em contínuo aumento as bênçãos da idade, da beleza, da bondade e da força.
Mais vale um só dia de um homem virtuoso e meditativo do que cem anos de um homem culto e imoral.
Mais vale um só dia da vida de um homem esforçado e resoluto do que cem anos da vida de um homem preguiçoso e indolente.
Mais vale um só dia da vida de um homem esforçado que cem anos da vida de um homem preguiçoso e vadio.
Mais vale um só dia da vida de um homem capaz de compreender como surgem e desaparecem as coisas do que cem anos da vida de um homem que nada sabe do nascimento e da morte das coisas.
Mais vale um só dia da vida de um homem capaz de ver a imortalidade do que cem anos da vida de um homem que carece da visão da imortalidade.
Mais vale um só dia da vida de um homem que percebe o Dhamma do que cem anos da vida de um homem incapaz de ver a Sublime Verdade.”

Insistir na maldade provoca sofrimento. Assim, que ninguém atue mal uma e outra vez.
Insistir na bondade produz felicidade. Assim, atua bem uma e outra vez.
Despreocupado vai o malvado enquanto sua má ação não produz frutos. Mas quando ela amadurece, sobre ele cai todo o infortúnio dessa má ação.
Às vezes o homem bom sente dor ao agir bem, mas quando sua boa ação amadurece e produz frutos, então o bondoso recebe a fortuna de sua obra.
Não os descuideis do mal pensando que não os alcançará, pois assim como o cantil se enche gota a gota, assim o malvado vai se enchendo pouco a pouco de maldade.
Não os descuideis do bem pensando que não chegará, pois assim como o cantil se enche gota a gota, assim o sábio vai se enchendo pouco a pouco de bondade.
O mal deve ser evitado com a mesma astúcia que um comerciante rico afasta sua caravana do caminho perigoso, e com o mesmo afinco que o homem que ama a vida evita o veneno.
Assim como o veneno não consegue ferir a mão que o sustenta se não há ferida, assim se livra da maldade aquele que não está enganado.
Como poeira lançada ao vento, volta-se o mal contra o malvado que fere o homem inocente, puro e sem mácula.
Alguns homens nascem de matriz. Outros, os malvados, nascem em estados desgraçados. Outros, os que dominam a si mesmos, nascem em estados benditos. Mas apenas os iluminados alcançam o Nirvana.
Não há lugar algum, nem no céu, nem no meio do oceano, nem em uma caverna perdida nas montanhas, onde um homem possa estar a salvo da morte.”


DHAMMAPADA capítulo X – Castigo

 “Não há homem que não tema o castigo, nem homem que não tema a morte. Aquele que compreende isto, não mata nem provoca a morte.
Não há homem que não tema o castigo, nem homem que não ame a vida. Aquele que compreende isto, não mata nem provoca a morte.
Todo aquele que, em busca da sua própria felicidade, prejudique a outros que, como ele, também buscam plenitude, não a alcançará depois da morte.
Todo aquele que, em busca de sua própria felicidade, não prejudique a outros que, como ele, também buscam plenitude, a alcançará depois da morte.
Não dirijais palavras que machuquem a ninguém, pois aqueles a quem atacais poderiam levantar-se contra vós. Todas as discussões causam dor, e podeis receber golpe por golpe.
Se, como um gongo quebrado, permaneces em silêncio, atingirás o Nirvana e encontrarás a paz.
A velhice e a morte levam a vida dos seres ao fim, do mesmo modo que um vaqueiro conduz suas vacas à pastagem com um cajado.
O homem ignorante que age mal é atormentado por suas ações como o homem abraçado pelo fogo.
Aquele que ferir com suas armas ao inocente e ao pacífico, se verá precipitado no sofrimento.
Grandes doenças o atormentarão, ou seu corpo se cobrirá de feridas, ou sua mente se turvará.
Ou padecerá da opressão de seu senhor, ou cairão sobre ele graves acusações, ou perderá sua família, ou se arruinará, ou um incêndio assolará sua casa.
E depois da dissolução de seu corpo, renascerá no inferno.
O homem que ainda não se desfez de suas dúvidas não alcançará a purificação por andar nu, nem por lavar-se, nem por fazer jejum, nem por dormir no chão, nem por cobrir o corpo com cinza, nem por não caminhar erguido.
Não importa se o homem se veste ou não corretamente, pois só aquele que vive em paz, que submeteu suas paixões e dominou seus sentidos, e que não fere ninguém, é puro, e digno de ser chamado brâmane, asceta ou monge.
Muito difícil é encontrar neste mundo um homem que, dominado pela modéstia, evite toda crítica como o cavalo evita o chicote.
Sejam fortes e firmes, como o cavalo ao notar o golpe do chicote. Pela segurança, a virtude, o esforço, a concentração, o estudo da verdade, o conhecimento correto, a boa conduta e a vigilância da mente, prevalecerão sobre o grande sofrimento.
Os encarregados da irrigação canalizam as águas; os fabricantes de flechas as endireitam; os carpinteiros alisam a madeira. Os homens virtuosos dominam a si mesmos.”


DHAMMAPADA capítulo XI – Velhice

Compreendei que este belo corpo não é mais do que uma coleção de sofrimento, um mero conglomerado, uma massa transtornada na qual nada perdura e na qual nada persiste.
Neste corpo não há nada a não ser decadência. Nada é a não ser um ninho de doenças, totalmente perecível, matéria corruptível destinada a ser destruída. Compreenda que a vida se acaba com a morte.
Estes ossos secos estão vazios como as abóboras no Outono. Que prazer pode provocar contemplá-los?
Que outra coisa é este corpo senão um conglomerado feito de ossos cobertos de carne e sangue, onde se armazenam a velhice e a morte, o orgulho e o engano?
Assim como as luxuosas carruagens reais envelhecem, assim envelhece o corpo. Mas os Ensinamentos dos Bondosos não envelhece jamais, e desse modo permanece o bem entre os bons.
Aquele que pouco aprende, cresce como um boi, pois cresce sua carne, mas não sua sabedoria.
Atravessei muitas vidas buscando, no samsara, sem conseguir achar o construtor da casa. Não há nada além de sofrimento no constante renascer.

Mas agora, oh contrutor da morada, te vi, e já não construirás novamente esta casa. Todas suas vigas foram destruídas. Suas fundações foram totalmente aniquiladas. Minha mente alcançou o incondicionado, e com isso alcancei o fim do apego.
Os homens que não levaram uma vida nobre, aqueles que em sua juventude não se proveram de tal riqueza, desabam como velhas garças em um tanque de peixes.
Os homens que não observaram a Vida Santa, aqueles que em sua juventude não se proveram de tal tesouro, recuam como um arco inútil”.


DHAMMAPADA Capítulo XII – Temperança

O homem sábio jamais cairá em desgraça se, antes de aconselhar aos outros, se esforçar em esclarecer a si mesmo.
O homem sábio age de acordo com os conselhos que dá aos outros. Mesmo que seja realmente difícil temperar a si mesmo, somente o homem que se tempera pode guiar outras pessoas.
Cada um é seu próprio refúgio. Por acaso pode haver outro refúgio? Por isso, o homem que conseguiu temperar a si mesmo alcança o refúgio mais difícil de conquistar.
O mal causado por cada pessoa nasce de cada pessoa e é originado por ela mesma. O mal tritura o ignorante como o diamante tritura as pedras.
A corrupção estrangula o homem como o cipó maluva estrangula a árvore sala, acabando com ele como se fosse o pior de seus inimigos.
As coisas más e prejudiciais são fáceis de fazer. As coisas boas e benéficas são realmente difíceis de levar a cabo.
O ignorante que, por sua errônea consideração das coisas, despreza os ensinamentos dos Iluminados, dos Nobres e dos Retos, cultiva frutos que, como ocorre com o kashta, acarretam sua própria destruição.
Da própria pessoa nasce o mal, e por isso ela mesma se contamina. A própria pessoa deixa de fazer o mal, e por isso ela mesma se purifica. A pureza e a impureza dependem da própria pessoa. Ninguém pode purificar o outro.
Por buscar a realização espiritual dos outros, ninguém deve negligenciar a busca de sua própria realização espiritual. Percebendo com claridade sua própria meta, permitirá que os outros busquem suas próprias realizações.”

“Um homem que ama a si mesmo não poupa esforços em proteger-se. O homem sábio permanece vigilante em cada uma das três vigílias.
“Acreditais que pode alegrar-se e ser feliz aquele que constantemente está submetido ao ardor de suas paixões? Por acaso não buscarias a luz se estivesses nas trevas?

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