20 de jul. de 2014

As Quatro Nobres Verdades III


Experimentamos altos e baixos em nossa jornada, e a causa para essas dificuldades é o desejo.
Hoje vamos falar sobre a Terceira Nobre Verdade – O Nirvana existe, e ele pode existir para você. Nirvana é a inconcebível paz interior, a cessação do desejo e do apego, ou seja, é o fim do sofrimento.
E onde fica o Nirvana? Se não estiver aqui mesmo, não está em parte alguma. Então como fazer para experimentá-lo? Os mestres Tibetanos ensinam que o Nirvana está sempre presente - do outro lado do nosso emaranhado de apegos.
Estas experiências podem ser precipitadas simplesmente por nos soltarmos, por abrirmos mão do apego, da ganância e da ilusão - despertando, nem que seja por um instante, do sonho de nossa vida semiconsciente.
A liberação do desejo, mencionada por Buda, é uma paz interior inconcebível, uma sensação de unidade e completude. Entretanto, muitas pessoas associam desejo com paixão. “O que”?Dizem eles, “Sem paixão? Não ter paixão significa não viver”!
Mas o que a libertação do desejo realmente significa é paz e contentamento. A felicidade duradoura que o Buda descreve não significa falta de personalidade nem de paixão. A ausência de desejos não implica na falta de coisa alguma.
A ideia aqui é que você é muito mais do que os seus desejos ou aspirações. As pessoas iluminadas também têm suas preferências e inclinações, e um estilo individual e pessoal. Isto nos mostra que a iluminação, a liberdade e a natureza búdica são qualidades que se expressam através da personalidade.
Uma das principais imagens Budistas é o Lotus, que cresce na água e ergue suas pétalas para o sol brilhante, nasce na lama, mas não pertence a ela. O lótus simboliza pureza, desenvolvimento e transcendência.
Atingir a libertação dos desejos e estar no mundo mas não pertencer a ele é algo que depende de nós; atingir a libertação, a felicidade duradoura e o desapego depende de nós. Nós somos os causadores dos problemas, nossa visão anuviada e nossa compreensão limitada criam a dualidade do sujeito e do objeto, do que prende e fica preso. É por isso que a instrução de meditação de repousar confortável no estado natural é tão relevante. Não existe o impulso de se agarrar a algo, incendiando fortes paixões conflitantes. Não existem apegos a visões nem sons nem cheiros nem gostos nem toques. Só há a experiência livre, desimpedida, espontânea das coisas como são, um momento miraculoso após o outro. Esta é a grande perfeição natural.
Como disse Buda: “Ao ver, existe apenas o ato de ver; não há aquele que vê nem o que é visto”. Será que conseguiremos ser assim tão abertos, vazios, extremamente presentes e transparentemente claros? A resposta é que decidimos não ser.
O Nirvana, o fim dos nossos problemas, a extinção do fogo do desejo, está do outro lado de cada momento de desejo intenso, de apego exacerbado. É onde o grande “largar” entra e precisa acontecer. Então a paz definitiva está lá, a satisfação completa, o fim de todo desejo, um estado luminoso e profundo, simples em vez de complicado. Bem diferente dessas pequenas bolhas de pensamentos que estamos sempre tentando colecionar, para podermos ter algo para mostrar aos outros – uma pilha inteira de pequenas bolhas de pensamentos, grande coisa! Será que isso é tudo que teremos no fim de nossas vidas? Uma enorme pilha de pensamentos insignificantes?
É claro que amamos a poesia e tudo que seja original, fresco, novo. Mesmo assim, tudo isso é velho se compararmos com a experiência simples do espantoso e poético frescor do momento presente, onde não é necessário escrever, colecionar, preservar ou fabricar coisa alguma. Cada momento expressa a verdade.
De acordo com o próprio Buda, o Nirvana é simplesmente o abandono do desejo, do apego, da ligação. E isto não é pouca coisa. Quanto mais a nossa prática espiritual, a nossa meditação e também a nossa atividade diária forem compatíveis com a ausência de desejos e apegos – quanto menos egoístas, inflexíveis, exigentes e gananciosos nós formos -, mais o Nirvana começa a insinuar-se. Mesmo que o Nirvana esteja bem aqui, nós muitas vezes estamos em outro lugar.
O Nirvana está sempre tentando passar pelas pequenas aberturas da armadura de nosso ego. Podemos alargar estas aberturas abrindo mão de algumas defesas e barricadas erguidas pela persona, abrindo mão, também, do comportamento repetitivo, habitual, defensivo e compulsivo – ou seja, do condicionamento psicológico.
Quando realmente soltamos as defesas e habituamos a permitir que as coisas vão embora, o conflito interior e a irritação realmente se extinguem. Então podemos experimentar, cada vez mais e mais, a paz interior que o Nirvana resume.
Tornando-nos menos dependentes, menos exigentes, menos complicados, menos alienados, menos apressados, menos carentes e menos gananciosos. Por outro lado, nos tornamos mais saudáveis, perfeitos, felizes, fortes e sábios. E nos sentimos totalmente renovados.

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