Jung
disse em algum lugar que nossas sombras desafiam toda a personalidade-ego, pois
ninguém pode se conscientizar da sombra sem um empenho moral considerável. Para
nos conscientizarmos de nossas sombras, precisamos reconhecer o aspecto obscuro
da nossa personalidade como presente e real. Esse ato é condição essencial do
autoconhecimento
Então
vamos entender...
Assim como nascemos todos com
luminosidade, também nascemos todos com um lado obscuro e sombrio.
A vida espiritual sempre é definida
como busca de luminosidade e luz. Mas, se esse é o caso, o que fazer com as
trevas que todos sabem que existem? O que fazer com nossas próprias sombras
pessoais?
É pura tolice acreditar que podemos
simplesmente transcender ou negar o elemento sombrio. A única maneira de lidar
com o lado sombrio é enfrentá-lo, reconhecê-lo e resolver os conflitos a ele
relacionados.
Todos os buscadores acabam por
descobrir que seus próprios elementos sombrios apresentam as maiores lutas da
vida espiritual.
O Buda não foi exceção. Jesus não foi
exceção. Mas eles dominavam seus desejos; não precisavam provar nada; já haviam
se desvinculado do apego ao ego.
Se o próprio Buda foi importunado
pelas sombras, como podemos esperar evita-las? Todos teremos que evitar nossas
próprias legiões das trevas, todos teremos nossas próprias “noites sombrias da
alma”. Não, nossas lutas não são internas. Os demônios que enfrentamos são
todos de nossa própria criação.
Segundo Jung, essas figuras sombrias
podem ser definidas como os elementos reprimidos da personalidade, com os quais
escolhemos não nos identificar. A sombra é o ponto fraco das nossas
personalidades brilhantes. Contém as nossas partes que mantemos ocultas, às
vezes até de nós mesmos. Basta tentar reprimir, suprimir ou negar o lado
sombrio da própria personalidade para correr o risco de atrair esses elementos
para a nossa vida de outras formas.
Não cometa o erro de acreditar que
isso não tem significado nenhum na sua vida. “A sombra” não é um mero conceito
filosófico. Durante a vida, inúmeras vezes deparamos com nossas sombras. Elas
nos tentam e brincam conosco. Elas nos assustam e provocam repulsa. João, por
exemplo, depara-se com sua sombra sempre que se irrita com a mulher ou com os
filhos que não consiga controlar a raiva. Maria encontra sua sombra toda vez
que bebe demais. Carolina encontra sua sombra nas relações de dependência às
quais se agarra como parasita. Em resumo, nossas sombras nos obrigam a fazer e
dizer coisas que preferiríamos não admitir.
As sombras também aparecem na nossa
vida como projeções. Olhamos para os outros e as qualidades que se destacam são
as que não nos agradam ou que simplesmente reprimimos ou não conseguimos
reconhecer em nós. De fato, sempre nos cercamos de pessoas que têm qualidades
que achamos menos desejáveis.
Carla, por exemplo, tem inúmeras
amigas cujo comportamento pode ser interpretado como bem abaixo do ideal. As
amigas da Carla são gananciosas, amigas que se preocupam com coisas sem
importância, e até amorais. Não são como Carla, que se vê como uma pessoa
ética. Ela julga com dureza essas pessoas com quem gosta de andar. Mas por que
passa tanto tempo nesse ambiente?
Todos nos comportamos um pouco como a
Carla, e a sombra explica por quê. As sombras enterradas nos levam a locais
aonde preferiríamos não ir. Quanto mais somos incapazes de encarar nossas
sombras, nossos próprios demônios, mais somos levados a enfrentá0los e
vivenciá-los de outras formas, menos conscientes. Procuramos nossas sombras nos
rostos dos outros; e as atraímos para nós.
Nossas sombras podem tornar-se nossas
aliadas e Professoras ou nossos agressores e adversários. Quanto mais
conscientes nos tornamos de tudo o que há dentro de nós, positivo e negativo,
claro e escuro, mais capacitados estaremos para levar a vida de maneira
equilibrada, sadia e espiritual.
As profundezas dos mundos invisíveis,
não manifestos, das trevas que nós tememos são simplesmente expressões de uma
realidade interior, obra subconsciente silenciosa do nosso espírito não
explorado. Só descobrimos o que há ali por meio de auto exploração –
mergulhando e trazendo à luz o que tememos, da mesma forma que o oceano revela
seus segredos quando somos capazes de mergulhar em suas profundezas – bem
abaixo da superfície espumante e iluminada pelo sol.
Nossos lados sombrios, bem como nossas
facetas mais claras, também existem para nosso enriquecimento e sustento.
Existem para que possamos aprender e crescer.
A mensagem é bem clara: explore-se e
transforme-se. Da mesma forma que Buda encontrou com suas sombras antes de
despertar, frequentemente nos deparamos com nossas sombras mais escuras pouco
antes de claras auroras.
A lua cheia num céu escuro simboliza a
iluminação, mas chegou a esse estado depois de completar o ciclo que começa com
um fio de luz que vai crescendo nas trevas.
O que devemos ter sempre em mente é
que nunca nada é totalmente negativo ou impossível, ou que deva chegar ao
desespero.
Quando atingimos uma visão mais
holística e completa da realidade e da totalidade, vemos que as sombras também
não são nada além de luz.
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