7 de mai. de 2015

Sombras aqui sombras ali


Jung disse em algum lugar que nossas sombras desafiam toda a personalidade-ego, pois ninguém pode se conscientizar da sombra sem um empenho moral considerável. Para nos conscientizarmos de nossas sombras, precisamos reconhecer o aspecto obscuro da nossa personalidade como presente e real. Esse ato é condição essencial do autoconhecimento

Então vamos entender...
Assim como nascemos todos com luminosidade, também nascemos todos com um lado obscuro e sombrio.
A vida espiritual sempre é definida como busca de luminosidade e luz. Mas, se esse é o caso, o que fazer com as trevas que todos sabem que existem? O que fazer com nossas próprias sombras pessoais?
É pura tolice acreditar que podemos simplesmente transcender ou negar o elemento sombrio. A única maneira de lidar com o lado sombrio é enfrentá-lo, reconhecê-lo e resolver os conflitos a ele relacionados.
Todos os buscadores acabam por descobrir que seus próprios elementos sombrios apresentam as maiores lutas da vida espiritual.
O Buda não foi exceção. Jesus não foi exceção. Mas eles dominavam seus desejos; não precisavam provar nada; já haviam se desvinculado do apego ao ego.
Se o próprio Buda foi importunado pelas sombras, como podemos esperar evita-las? Todos teremos que evitar nossas próprias legiões das trevas, todos teremos nossas próprias “noites sombrias da alma”. Não, nossas lutas não são internas. Os demônios que enfrentamos são todos de nossa própria criação.
Segundo Jung, essas figuras sombrias podem ser definidas como os elementos reprimidos da personalidade, com os quais escolhemos não nos identificar. A sombra é o ponto fraco das nossas personalidades brilhantes. Contém as nossas partes que mantemos ocultas, às vezes até de nós mesmos. Basta tentar reprimir, suprimir ou negar o lado sombrio da própria personalidade para correr o risco de atrair esses elementos para a nossa vida de outras formas.
Não cometa o erro de acreditar que isso não tem significado nenhum na sua vida. “A sombra” não é um mero conceito filosófico. Durante a vida, inúmeras vezes deparamos com nossas sombras. Elas nos tentam e brincam conosco. Elas nos assustam e provocam repulsa. João, por exemplo, depara-se com sua sombra sempre que se irrita com a mulher ou com os filhos que não consiga controlar a raiva. Maria encontra sua sombra toda vez que bebe demais. Carolina encontra sua sombra nas relações de dependência às quais se agarra como parasita. Em resumo, nossas sombras nos obrigam a fazer e dizer coisas que preferiríamos não admitir.
As sombras também aparecem na nossa vida como projeções. Olhamos para os outros e as qualidades que se destacam são as que não nos agradam ou que simplesmente reprimimos ou não conseguimos reconhecer em nós. De fato, sempre nos cercamos de pessoas que têm qualidades que achamos menos desejáveis.
Carla, por exemplo, tem inúmeras amigas cujo comportamento pode ser interpretado como bem abaixo do ideal. As amigas da Carla são gananciosas, amigas que se preocupam com coisas sem importância, e até amorais. Não são como Carla, que se vê como uma pessoa ética. Ela julga com dureza essas pessoas com quem gosta de andar. Mas por que passa tanto tempo nesse ambiente?
Todos nos comportamos um pouco como a Carla, e a sombra explica por quê. As sombras enterradas nos levam a locais aonde preferiríamos não ir. Quanto mais somos incapazes de encarar nossas sombras, nossos próprios demônios, mais somos levados a enfrentá0los e vivenciá-los de outras formas, menos conscientes. Procuramos nossas sombras nos rostos dos outros; e as atraímos para nós.
Nossas sombras podem tornar-se nossas aliadas e Professoras ou nossos agressores e adversários. Quanto mais conscientes nos tornamos de tudo o que há dentro de nós, positivo e negativo, claro e escuro, mais capacitados estaremos para levar a vida de maneira equilibrada, sadia e espiritual.
As profundezas dos mundos invisíveis, não manifestos, das trevas que nós tememos são simplesmente expressões de uma realidade interior, obra subconsciente silenciosa do nosso espírito não explorado. Só descobrimos o que há ali por meio de auto exploração – mergulhando e trazendo à luz o que tememos, da mesma forma que o oceano revela seus segredos quando somos capazes de mergulhar em suas profundezas – bem abaixo da superfície espumante e iluminada pelo sol.
Nossos lados sombrios, bem como nossas facetas mais claras, também existem para nosso enriquecimento e sustento. Existem para que possamos aprender e crescer.
A mensagem é bem clara: explore-se e transforme-se. Da mesma forma que Buda encontrou com suas sombras antes de despertar, frequentemente nos deparamos com nossas sombras mais escuras pouco antes de claras auroras.
A lua cheia num céu escuro simboliza a iluminação, mas chegou a esse estado depois de completar o ciclo que começa com um fio de luz que vai crescendo nas trevas.
O que devemos ter sempre em mente é que nunca nada é totalmente negativo ou impossível, ou que deva chegar ao desespero.

Quando atingimos uma visão mais holística e completa da realidade e da totalidade, vemos que as sombras também não são nada além de luz.

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