23 de out. de 2014

O Apego


Relaxe seu corpo... Respire com Plena Atenção e penetre todas as partes do corpo – parte por parte – para que você possa observar e conhecer profundamente... Perceber sensações em seu corpo – agradáveis, desagradáveis e neutra. E, então ir além... Observar os movimentos da sua mente e perceber que sua mente gera e emite pensamentos.
Todos os pensamentos que geramos dia e noite (mesmo sonhando), são a expressão ou manifestação invisível das nossas experiências e formações interiores.
Perceba que cerca de metade dos pensamentos emitidos – isso varia bastante de pessoa a pessoa – está vinculado ao passado enquanto o restante se volta para as projeções relacionadas ao futuro. A pergunta que nos cabe fazer, diante dessa situação, seria: e o presente? Esta é uma medida do quanto vivemos distantes do momento presente, distantes do aqui e agora de nossas vidas e do quanto nossa mente está separada, alheia, dissociada, longe daquilo que se passa ou que fazemos com nosso corpo e coração.
Através da quantidade e qualidade dos nossos pensamentos, podemos ver como está a harmonia entre mente, corpo e coração.
Ao insistir em produzir pensamentos ligados às diferentes emoções perturbadoras, tais como Apego, Aversão, Indiferença, Orgulho e Inveja, adoecemos...
Nos últimos encontros, falamos sobre como o grande espelho do mundo e da vida reflete o nosso espelho interior. Para melhorarmos ainda mais a nossa base de compreensão, vale a pena iniciarmos com o conhecido exemplo do cão sarnento. Ele nos revela com bastante clareza e nitidez, como aquilo que vemos externamente, encontra-se contaminado pelo nosso condicionamento interno.
Imagine que numa sala apinhada de pessoas, de repente, adentre um cão de rua, magro e coberto de feridas. Se observarmos a reação das pessoas e o modo como elas olham para o cão, encontraremos três grupos bem distintos entre si: Haverá pessoas que se mobilizarão no sentido de proteger e recolher o cão, alimentá-lo, dar banho, cuidar das feridas e etc... Outras pessoas desta mesma sala, reagirão de modo exatamente oposto ao grupo anterior – discutirão, brigarão, dizendo que se trata de um cão imundo, fedorento, transmissor de doenças, devendo ser afastado e sacrificado. O restante das pessoas presentes não irá se mobilizar de forma alguma, nem a favor nem contra. Para elas tanto faz o cão ficar ou ir embora.
Se olharmos esta situação, veremos que o cão é o mesmo em todos os casos. Então, qual das pessoas vê o cão verdadeiro? O modo como ele é visto e interpretado depende da mente da pessoa que o vê. As pessoas enxergam um cão compatível com o universo interior de pensamentos que trazem consigo. O mesmo cão é visto como algo atraente, repulsivo ou neutro. Apenas a aparência do cão é observada, pois devido à contaminação pela Ignorância, somente enxergamos aquilo que a nossa mente projeta sobre ele.
E, assim, despejamos não apenas sobre o cão, mas sobre tudo aquilo que entramos em contato, o conteúdo interno de nossa mente - ao qual estamos presos. Despejamos e projetamos nosso apego, nossa aversão e nossa indiferença sobre o mundo e sobre as pessoas. Desde o nosso olhar até o nosso sorriso, tudo está condicionado às nossas energias de hábito. E devido a estes desencadeamentos sutis, não demonstramos possuir liberdade frente as menores e mais simples experiências de vida.
Não é à toa, portanto, que surgem guerras, desavenças, discussões, brigas, bem como ocorrem paixões, atrações arrebatadoras, e muito sofrimento persista sem esperança de alívio neste plano humano da existência.
Uma liberdade real e efetiva ainda está muito distante de nós e permanecerá inacessível enquanto não desenvolvermos plena consciência sobre estas forças que nos arrastam e empurram feito marionetes pela vida afora.
Mais do que isso, o predomínio de pensamentos apegados, aversivos ou indiferentes, gera ou induz poderosíssimos fluxos emocionais que percorrem cada indivíduo e interferem, alteram e mudam o seu metabolismo, e, por conseguinte, modificam o funcionamento de cada célula do organismo. Podemos vislumbrar, então, a maneira instigante com que mente e corpo interagem: através das emoções! A dimensão sutil (imaterial) conversa com a dimensão material por meio da emoção.
Portanto, imaginando olhar para as coisas e para a nossa vida, estamos, na verdade, nos mirando em um espelho que revela a nossa própria mente e formações cármicas.

Por isso, insisto no desenvolvimento da mente atenta, na observação da respiração, momento a momento, para que você possa aquietar a mente.

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